domingo, 25 de julho de 2010

De Nova York a Niterói, Sônia Braga se despe do glamour aos 60 anos.

Ela paga R$ 2,80 pelo bilhete da barca que vai levá-la de Niterói ao centro do Rio. Cerca de 20 minutos depois, Sonia Braga desce na praça 15 e se mistura à massa de anônimos.


A estrela de "A Dama do Lotação" (1978) se converteu numa ardorosa defensora do transporte público. "Meus amigos acham graça quando digo que peguei a barca e o metrô para ir ao Rio", conta Sonia. Estranheza também compartilhada pelos companheiros de viagem.
Alternando temporadas entre o Brasil e os Estados Unidos (leia mais à pág. 41), Sonia tem ficado cada vez mais na cidade fluminense na casa comprada, em 2001, de presente para a mãe –que morreu no mesmo ano. Em Niterói, sai de cena a figura produzida que frequenta os tapetes vermelhos mundo afora.
Sempre de mochila, roupas esportivas e chinelos de borracha, incorpora Maria Campos, persona criada por Caetano Veloso quando o compositor namorava a atriz, nos anos 1980. "Maria Campos é a secretária, aquela que toma conta da outra que fica lá na banheira", explica Sonia Maria Campos Braga.

São duas das múltiplas faces de uma mulher que acaba de fazer 60 anos. "Pelos amores que vivi, pelos homens que tive, pelos filmes que fiz e pelas pessoas incríveis com quem trabalhei, eu devo ter uns 400 anos", diz a atriz, que estrelou pelo menos 35 filmes, 12 novelas e 14 séries, aqui e nos Estados Unidos. "Se eu tiver crise de idade, vai ser a dos 500 anos. Não vou ter uma crisezinha dos 60."Sonia sexagenária continua de bem com o espelho. Diz ter feito uma única plástica, no rosto, há nove anos, com Ivo Pitanguy.
Ao final da maquiagem para as fotos destas páginas, ela indaga: "Quem é essa pessoa?" Tem diante de si um rosto naturalmente belo. "Acabei de acordar", brinca, jogando a cabeleira escovada, aquele mesmo "cabelo preto/explícito objeto", cantado por Caetano em "Trem das Cores". "Não entendo por que nunca me convidaram para fazer anúncio de xampu!"

Sonia faz pose apenas diante das lentes. "A câmera gosta dessa cara", diz, ao ver no computador o resultado dos primeiros cliques de Christian Gaul. O fotógrafo conta a ela que foi assistente de Antônio Guerreiro, referência entre seus pares, com quem Sonia foi casada. "Te comi?", solta ela, gargalhando.
A frase soa natural na boca de uma Sonia que nunca teve pudores de se despir para encarnar personagens que repousam na galeria de ícones do cinema nacional. Hector Babenco, diretor do clássico "O Beijo da Mulher Aranha" (1985), recorda-se do susto ao vê-la circular nua pelo set de gravação do filme que concorreu a quatro Oscars.
Babenco admoestou o assistente por não ter oferecido um robe à atriz. Ela recusara a oferta. "Explicou que todos sempre ficavam esperando o momento em que ela iria tirar a roupa. Por isso, chegava nua e, logo, cansavam-se de olhar. Ela, então, relaxava", lembra o cineasta.
Em maio, atriz e diretor voltaram ao Festival de Cannes, duas décadas e meia depois, para reapresentar "O Beijo..." em cópia restaurada –o filme abre o 3º Festival Paulínia de Cinema, em 15 de julho. "Era como estar com a Sonia de 25 anos atrás. Uma gatona, com a mesma pele de pêssego e os mesmos olhinhos de jabuticaba malandra, só um pouquinho mais encorpada."
Sonia surgiu em Cannes em um longo vermelho, desenhado por ela mesma e confeccionado por Inácia Rodrigues, sua costureira de Ipanema. "Gastei R$ 1.500 [os vestidos das outras atrizes chegam a custar mais de US$ 30 mil]. Só não ficou perfeito porque minha costureira não acreditou que eu iria perder um centímetro de cintura."


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