terça-feira, 21 de setembro de 2010

O mundo virtual tem sua própria realidade, uma realidade prepotente, mas por outro lado fraquíssima, muito fugaz, não consistindo senão numa constelação de impulsos eletrônicos.

Muito interessante a entrevista com o filósofo Christoph Türcke, publicada na Folha de S.Paulo . “Ele defende que o aprofundamento da revolução tecnológica, no final do século 20, provoca um frenesi viciante de ‘choques’ imagéticos e visuais”, diz o texto. “Assim como as drogas evoluíram em potência -do ópio para a morfina e heroína, das bebidas fermentadas para as destiladas-, a ‘metralhadora audiovisual’ contemporânea provocou um aumento de dependência por parte de seus ‘usuários’. ‘Isso é o que chamo de distração concentrada.’ Türcke lança no dia 9, em São Paulo, o livro “Sociedade Excitada” (Unicamp). A seguir, um trecho da entrevista.
Como o vício define a sociedade da sensação?

Vício como fenômeno particular -como dependência física de certas substâncias (drogas)- está modificando um fenômeno geral, pois a máquina audiovisual também vicia. Quem presta atenção à tela se dedica a ela, vive uma dependência crescente dela, vincula suas expectativas, sua economia emocional e intelectual a ela. Assim como o drogado aplica injeções de heroína, uma sociedade que depende da tela se expõe a bilhões de choques imagéticos. O choque singular é mínimo, quase imperceptível e não faz mal. Bilhões, no entanto, destroem justamente a atenção que elas atraem magneticamente.

Então, em um mundo conectado como o atual, as pessoas estão virtualmente viciadas?

O vício é real. Surge em organismos físicos, não num agregado de pixel. O mundo virtual tem sua própria realidade, uma realidade prepotente, mas por outro lado fraquíssima, muito fugaz, não consistindo senão numa constelação de impulsos eletrônicos. Ao desligar a eletricidade a virtualidade inteira desaparece.


(para ilustrar o post, a capa de “The Clock withouth a face”, trabalho de Scott Teplin).

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