sábado, 29 de janeiro de 2011

Latuff tá bombando nas ruas do Cairo, viu?

Nas ruas do Cairo na terça-feira passada, havia algo no ar além do desejo de derrubar o ditador Hosni Mubarak. Em diversas regiões da capital egípcia, manifestantes empunhavam cartazes desenhados pelo cartunista brasileiro Carlos Latuff. As charges, enviadas via Twitter pelo carioca, foram impressas pelos fãs egípcios do artista, adorado em várias partes do Oriente Médio graças a seus desenhos pró-palestinos. Avisado na madrugada de quarta-feira que ativistas foram vistos carregando seu trabalho, Latuff diz que "poder participar deste momento histórico, mesmo à distância, é fascinante".
"Eu estou mais feliz que 'pinto no lixo' e não estou ganhando um centavo com isso", declarou ele, empolgado, ontem à tarde, após ter colocado mais duas charges à disposição na internet (twitpic.com/photos/carloslatuff).
Seu envolvimento com a revolta egípcia, no entanto, não se deu por acaso. Começou em outro levante, a Revolução do Jasmim na Tunísia, na semana passada, quando uma ativista lhe pediu alguns desenhos para retratar o momento pelo qual o país atravessa. "A charge consegue expressar de uma maneira muito simples um tema complexo. Ela sintetiza de uma forma que todos entendem", explica.
Ele não sabe se as charges foram às ruas de Túnis porque o pedido chegou após a queda do presidente Zine El Abidine Ben Ali. "Eles me chamaram em um momento secundário, o ditador já tinha fugido. No Egito, foi diferente. Eles me pediram no domingo, dois dias antes da manifestação", conta.

Para Latuff, é quase uma obrigação atender os ativistas. "Eu tenho uma habilidade, uma aptidão artística, e coloco à disposição de uma causa. Eles não pagam nada. Não é o tipo de trabalho que se cobra, mas uma questão de ativismo", reflete.
Nos desenhos, algumas homenagens. A charge na qual Mubarak está prestes a levar uma sapatada (o simples ato de mostrar a sola do sapato é uma ofensa enorme no mundo árabe) lembra o jornalista Muntazer al-Zaidi – o homem que atacou o então presidente dos EUA George W. Bush em uma coletiva de imprensa em Bagdá, em dezembro de 2008.
Outro desenho traz o egípcio Khaled Mohamed Saeed, jovem morto pela polícia egípcia na cidade de Alexandria, em junho de 2010. Na charge, ele é um gigante que segura um pequeno Mubarak pela roupa, em uma espécie de Davi e Golias ao contrário.
No final, lembra uma música do grupo O Rappa, que dizia "Hoje, eu desafio o mundo sem sair da minha casa". Para o cartunista, essa é a melhor tradução do seu atual momento.


FONTE: http://www.dcomercio.com.br/materia.aspx?id=60973

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