terça-feira, 31 de maio de 2011

@SabioBrasileiro. Adoro as twitadas dele: " Ironia é marcapasso não ser colocado nos pés."

Agora ele está  lançando a cartilha oficial de como escrever na internet. Não quer que você aprenda os motivos, apenas saiba como é o certo:


- “Vc n me conheçe!”
Amiguinhos, uma palavra que termine com “ce” e “ci” não tem “Ç”. É conhece!


- “Mim segue?”
É um índio do outro lado da linha? É “Me”. “Me segue?”

- “Não sei o que tá acontecendo com migo.”
Que migo? Miguxos do Restart? É comigo.

- “Nossa! Vc é de mais!”
E você é de menos. “De mais” já é demais.

- “Vou ter que ver como estão as coisas lá em baixo.”
Ah! Você vai pro inferno já, né? Não preciso nem mandar. É embaixo. E vale ressaltar que o contrário é em cima, e não encima.

- “Vc n me conhecer!”
De novo? Já falei que não quero. Gente que coloca verbo no infinitivo fora de hora é desprezível. Nesse caso é conhece, ok?

- “Tem como vc mim ajudar num tweet pra mim fazer?”
Olha quem voltou! É o índio! Amigão, é “me ajudar” e “pra eu fazer”.

- “Então sou burro só porisso?”
SÓ? SÓ POR ISSO?

- “Ela é meia louca”
Deve ser ruim mesmo ser uma meia, ficar num pé com chulé… É “meio louca”.

- “Agente se vê por aí”
Que agente? É um encontro da CIA? Interpol? É a gente, tá?

- “Vc n tem geito!”
É.. nem você. O jeito é a gente não se falar mais.

- “Vc não saceia sua vontade de falar merda, né?”
E você não sacia a sua vontade de errar conjugação verbal, né?

Tem uma série de outros erros. Substituição de Ç por SS, e vice-versa, não saberem usar “porque” e “por que” (para isso, segue a dica de usar sempre “pq” na internet. Pra ficar menos feio…), não saberem usar MAIS ou MAS.

Enfim, não quero ser professor. Só quero parar de ler essas monstruosidades, porque é um atentado aos olhos.
Desde já grato,

@SabioBrasileiro

sexta-feira, 27 de maio de 2011

A fantasia (presumida) de DSK: "Eu te uso, e você não vai ousar nem piar sobre isso" . Por Contardo Calligaris.

LI NO "Times" de Londres desse domingo que Dominique Strauss-Kahn (DSK, na imprensa francesa), no dia de sua prisão, sentou-se numa poltrona de primeira classe do Air France 23 para Paris e fez um comentário sobre a aeromoça da cabine: "Bonita bunda". Isso, num tom suficientemente alto para que outros passageiros (e, presumivelmente, a própria aeromoça) ouvissem.


A seguir, o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional e candidato socialista à Presidência da França foi retirado de seu assento e preso, acusado do estupro de uma mulher que entrara na sua suíte de hotel para fazer a limpeza.

Desde então, outras mulheres vieram a público para revelar que elas foram, no passado, vítimas de assédio sexual ou estupro por Strauss-Kahn. Todas declaram que calaram-se, convencidas de que a palavra delas pesaria menos do que a do poderoso DSK.

A quantidade e qualidade das acusações excluem a hipótese de armação da extrema direita francesa, que se beneficiaria com a saída de cena do candidato socialista.

Pois bem, DSK não foi julgado ainda. Mas apareceram numerosos comentários de leitores e colunistas da imprensa internacional, dos quais discordo -e talvez seja interessante explicar por quê.

Imaginemos que as acusações contra Dominique Strauss-Kahn se confirmem. Muitos perguntam: como é possível que um homem prestes a realizar seu sonho político não saiba se controlar e se deixe levar por compulsões "animalescas"?

Para Minette Marrin (do "Times"), "quando ele é possuído pelo espírito do "chaud lapin" (coelho excitado), DSK perde qualquer interesse pelos sentimentos de uma mulher. Ele os ignora e se impõe à mulher, agarrando-a e amassando-a como um dono (...) que não vê nada de errado na ideia de que a mulher não goste; talvez ele nem seja capaz de entender se ela gosta ou não".

Ora, o padrão presumido de DSK não é "animalesco" e é totalmente consistente com seu projeto de vida. Ou seja, o que acontece não é que Strauss-Kahn não controlaria um impulso secreto, que não teria nada a ver com sua vida pública. Ele não pula em qualquer mulher, aconteça o que acontecer. Ao contrário, aparentemente, sua fantasia dominante é a expressão coerente de uma ambição política, de domínio.

Ou você acha que é por acaso que ele teria escolhido mulheres que ele conseguiu manter no silêncio pela simples força de seu status?

A fantasia em jogo no caso (presumido) de Strauss-Kahn é mais complexa (e mais grave) do que o "simples" estupro; ela diz: "Eu te agarro, te uso, E VOCÊ NÃO VAI OUSAR NEM PIAR SOBRE ISSO".

Diferente do que diz Marrin, o Strauss-Kahn das denúncias se importa muito com o que pensam as mulheres, pois ele preza (acima de tudo, talvez) a frustração e a impotência exasperada de suas vítimas, incapazes de denunciá-lo.

Ou seja, à vista das acusações, DSK goza de uma fantasia de poder (mais do que propriamente sexual): seu prazer está em criar uma situação em que a vítima será e se sentirá derrotada, no silêncio. O caso relatado pelos passageiros da Air France é emblemático: a aeromoça não falaria, exatamente como as outras.

De repente, em Nova York, uma camareira imigrante africana teve a coragem de falar.

A ideia de que o senhor feudal teria o direito de deflorar as noivas de suas terras (dito "direito da primeira noite") é provavelmente um mito -ao menos, enquanto instituição jurídica.

Mas o tal "droit de cuissage" (direito de encoxar), embora não instituído, devia ser uma fantasia exercida sem dificuldade e sem risco: quem ousaria se queixar de ser agarrada pelo senhor das terras, e qual noivo ousaria pedir satisfação?

A família de meu pai é originária de uma cidade perto de Ivrea, no Piemonte, onde se celebra o carnaval com a Batalha das Laranjas.

É assim: uma jovem da cidade é escolhida "filha do dono do moinho" e simboliza uma mulher do povo, que cortou a cabeça de um duque que exigiu passar com ela a famosa primeira noite.

Milhares de cidadãos, vestidos a caráter, do domingo à terça de Carnaval, metralham com laranjas os guardas do duque que desfilam pela cidade de charrete. Alguns dizem que é um despropósito: são toneladas de laranjas desperdiçadas, a cada ano. Mas eu sempre achei que valia a pena.

Agora a onda é ser BEEEEM reaça: Foi uma semana marcada pelo protesto da gente diferenciada e gafes nas redes sociais, que têm 600 milhões de vigilantes no Facebook e 120 milhões no Twitter. Por Marcelo Rubens Paiva.

Rafinha Bastos, no dia das mães: “Ae órfãos! Dia triste hoje, hein?”


Danilo Gentili, sobre os “velhos” de Higienópolis que temem uma estação de metrô: “A última vez que eles chegaram perto de um vagão foram parar em Auschwitz.”

Amanda Régis, torcedora do Flamengo, time eliminado da Copa do Brasil pelo Ceará: “Esses nordestinos pardos, bugres, índios acham que têm moral, cambada de feios. Não é à toa que não gosto desse tipo de raça.”

Ed Motta, ao chegar em Curitiba: “O Sul do Brasil como é bom, tem dignidade isso aqui. Sim porque ooo povo feio o brasileiro rs. Em avião dá vontade chorar rs. Mas chega no Sul ou SP gente bonita compondo o ambiance rs.”

Quando um leitor replicou que Motta não era “um arquétipo de beleza”, ele respondeu que estava “num plano superior”. “Eu tenho pena de ignorantes como vc… Brasileiros…”, escreveu. “A cultura que eu vivo é a CULTURA superior. Melhor que a maioria ya know?”

E na MTV, a Casa dos Autistas, quadro humorístico, chocou pelo mau gosto.

Todos pediram desculpas depois. Danilo, um dos maiores humoristas de stand-up que já vi, recebeu telefonema do departamento comercial da Band, pedindo para tirar o comentário. Ed Motta se revoltou contra a imprensa. Pergunta se temos o direito de reproduzir seus escritos particulares.

A internet trouxe a incrível rapidez na troca de informações e espaço para exposição de ideias. Alguns se lambuzam. Dizem que são contra as patrulhas do politicamente correto.

Mas como ficam as domésticas ofendidas popr Delfim Netto, os órfãos recentes, aqueles que perderam parentes em Auschwitz, os nordestinos e os pais de autistas?

Tomara que, depois do pensamento grego, democracia, Renascença, a revolução industrial e tecnológica nos iluminem.

O preconceito não é apenas sintoma de ignorância, mas lapsos de um narcisista.


Ele nunca vai acabar?

Enquanto no Itaú Cultural, um símbolo de excelência em apoio às artes e alta tecnologia, em plena Avenida Paulista, uma mãe foi expulsa por amamentar o filho em público na exposição do Leonilson, artista que sofreu inúmeros preconceitos, morto vítima da Aids.


Ou melhor, viadão que morreu da peste gay, porque era promíscuo, diriam os reaças.