Sempre houve conflitos entre culturas opostas, com vontade de se invadir mutuamente e de converter os outros ou, se eles não aceitarem, de exterminá-los. Mas, justamente, a simples oposição entre culturas leva às bombas - não aos homens-bomba. E é o homem-bomba que explica o terrorismo moderno.
O homem-bomba (diferente do kamikaze japonês em 1944) não é um subterfúgio estratégico (tipo: é só com um sacrifício humano que a gente conseguiria colocar o explosivo na hora e no lugar certos). Homem-bomba é quem PRECISA se explodir junto com seus inimigos. Mas por quê?
Pois é, o homem-bomba não é um fanático que tenta matar inimigos de uma "civilização" diferente. Ao contrário, o homem-bomba é filho da abertura moderna do mundo e das fronteiras, com seu corolário: a competição das culturas pelos corações e pelas mentes de todos e especialmente dos que viajam e migram.
Quem migra de uma cultura tradicional para a modernidade ocidental fica quase sempre dramaticamente dividido entre a sedução do Ocidente e a culpa de estar traindo sua cultura de origem.
Dois pilotos do 11 de Setembro, na noite do dia 10, despediram-se da vida bebendo e brincando num "night club"; aparentemente, eles imaginavam o paraíso dos mártires, com sei lá quantas virgens, nos moldes de um "night club" da Nova Inglaterra. Quase certamente, eles se odiavam e nos odiavam por isso.
Explodindo os inimigos, o homem-bomba tenta silenciar um mundo que o tenta e ao qual ele não sabe resistir. Explodindo-se, ele resolve o conflito do qual ele mais sofre: seu conflito interno.
Bin Laden não foi representante de nenhuma ideia ou cultura; foi apenas parasita de um conflito psíquico.
Enquanto terapeuta, tenho por ele um desprezo particular. Afinal, bem ou mal, eu passo meu dia tentando ajudar as pessoas a negociar e tolerar seus conflitos internos. Bin Laden dedicou sua vida à tarefa de tornar intolerável o conflito interno de migrantes e viajantes, para convencê-los a vestir um cinto de explosivos.
sou apaixonada pela psicologia, cê sabe? Faço Direito, mas tenho uma essa paixão, que nutro aos poucos.
ResponderExcluirLeio muito mais sobre Jung que sobre as outras vertentes, mas interesso-me em entender tudo.
Por isso adoro quando vc dedica posts a explicar a realidade das coisas pelo olhar da psicologia. Me estimula!
Sacia um pouquinho minha sede de entender o Homem.
beijos
jana.