sábado, 30 de julho de 2011

Fela Kuti, o gigante do afrobeat.

O nigeriano Fela Kuti não é tão reverenciado quanto o americano James Brown ou o jamaicano Bob Marley. Mas o impacto criativo que causou no cenário musical dos anos 1970 e 1980 pode ser comparado ao desses dois gigantes da música negra. Agora, 14 anos após sua morte, a influência de Fela chega ao ápice com a apropriação de suas invenções musicais por artistas como Beyoncé e Jay-Z, entre outros (leia o quadro abaixo).

“Está acontecendo um revival de sua música”, diz Joe Tangari, crítico do site Pitchfork, um dos mais importantes da crítica musical na internet. “A música africana nunca esteve tão em evidência, e ninguém é tão grande hoje quanto Fela.” Em 2009, sua vida foi adaptada para um musical da Broadway, Fela!, que ganhou três prêmios Tony, o Oscar do teatro.


No Brasil, o lançamento da biografia do músico é um sintoma do novo interesse por ele e seu trabalho. Fela – Esta Vida Puta (Nandyala, 344 páginas, R$ 38), escrita pelo jornalista cubano Carlos Moore em 1982, é um relato em primeira pessoa de uma vida conturbada. Nascido em 1938, a 100 quilômetros de Lagos, Fela Kuti era filho de um reverendo e uma feminista militante. Gente de classe média. Na juventude, estudou música em Londres e ali conheceu as ideias de Malcolm X, ativista da causa negra, e o funk de James Brown. Quando voltou à Nigéria, formou a banda Africa 70, com 30 integrantes, passando a tocar em seu próprio clube, The Shrine (o santuário), em Lagos. Ao improvisar durante horas no sax e nos teclados, misturando jazz, funk e ritmos africanos, criou um novo estilo musical, o afrobeat. Em 1970, fundou numa favela a comunidade Kalakuta (a república), onde vivia com suas 27 mulheres e os músicos de sua banda. Ele administrava o harém com um rígido cronograma sexual. Seu estilo de vida (que incluía o consumo de drogas) e suas letras politizadas fizeram dele um inimigo do Estado militar nigeriano: foi preso, apanhou da polícia, viu (literalmente) suas esposas ser estupradas por soldados. Continuou perseguido até 1997, quando morreu de aids. A intensidade da vida ficou marcada na música, que agora ganha o reconhecimento devido.




GILBERTO GIL


Conheceu Fela em uma viagem à Nigéria em 1977 e no prefácio da biografia escreveu que ele é “o mais recente gênio africano”. Sua música, que engloba reggae, forró, samba de roda e tropicalismo, tem ecos com a de Fela especialmente no parentesco nem tão distante entre a música tradicional da Bahia e a da Nigéria.
 
MARISA MONTE


Desde sempre conhecida pela mistura de estilos com seu som tropicália-chic, Marisa Monte também apontou seu radar para Fela, no disco "Mais", de 1994. Na mesma faixa em que cruza “Ensaboa”, de Cartola, com “Lamento da lavadeira”, de Monsueto, ela canta um trecho (não-creditado) de “Sorrow, Tears & Blood”.

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