terça-feira, 19 de julho de 2011

Xico Sá e a famosa DR!

Ai naquele maior barraco, ele, rapaz acadêmico, vem com uma citação de Deleuze (o Gilles, filósofo francês) pra cima de mim, vê se pode uma coisa dessas?!!”

Pior é que pode.
Sim, como o desabafo da amiga N. não nos deixa mentir, intelectual (ou metido a) bota Delleuze & Sartre até no meio de uma D.R., a sigla como é conhecida hoje (graças às meninas do 02 Neurônio) a mitológica “Discussão de Relação”.
Embora seja escritora de mancheia e conhecedora do mundo afrancesado, N. não se conteve diante do esnobe mancebo-dos-rizomas. Deu “download” na brava cabocla Iracema que mora na sua alma cearense e sapecou: “Diabeisso?!” (Corruptela alencarina de “que diabo é isso?!”, este blog também é cultura).
Ela não concebia que naquelas cinzas das horas, a casa caindo, alguma criatura esquecesse de mirar o próprio teto e convocasse um pensador francês metido para resolver o drama de alcova. Como se a vida a dois fosse uma tese, como se desconsiderasse o conhecimento do belo inferno dos lares.

D.R. com intelectual ou artista envolvido é assim mesmo. Não tem jeito. Daí lembrei de catalogar outros tipos de D.Rs do mesmo gênero, veja a que lhe serve de carapuça, amigo leitor:

D.R. Kurosawa – Outro noite adiei a saideira por horas, reparando num embate de casal que imitava a arte deste cineasta. Uma discussão lenta, imagens lindas, arrozais sob montanhas, silêncios que falam coisas, uma peleja quase em ideogramas.

D.R. MPB - Indecifrável e incompreensível como o “zum de besouro ímã” do verso do Djavan. Muita onomatopéia e nem uma idéia os males da D.R. são.

D.R. Erística - Como na corrente homônima herdada dos gregos e consagrada por Schopenhauer, a arte de vencer um debate ou um barraco oral mesmo sem ter razão.

D.R. punk-rock - Três acordes e vai cada um pro seu lado, dormir na casa da mãe, de um(a) amigo (a), hotel, flat, amante, homeless...

D.R. Paulo Coelho - Depois da prosa, só resta sentar, desiludido(a), na margem do Rio Piedra e chorar. Assim como na escrita coelhística, o barraco começa com parábola bíblica ou uma lenda árabe.

D.R. Bartleby - “Prefiro não discutir”, diz uma das partes, repetindo o mantra do escriturário do livro homônimo de Melville.

D.R. free-style - É a discussão rimada, estilo rap, passionais MC´s: “Assim você me afunda/ com esse pé-na-bunda/ com essa insensatez.../ meu barquinho já naufraga/bossa nova é uma praga/veja só que a vida fez!”

D.R. brechtiana - A arte de enfrentar o público, seja num botequim seja numa festa, com o distanciamento do personagem, como se dissessem do palco, a cada golpe, “não é nada disso que vocês estão pensando, controlem-se”.

D.R. Abaporu ou D.R. arte moderna _ Típica discussão sem pé nem cabeça, que para nenhum dos dois interessa.

D.R. metalingüística - A D.R. da D.R., tipo roteiro de Kauffman (“Adaptação”, o filme), exercício das cabeças requentadas ou das mentes ressentidas.

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