quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Show Primavera Carioca: Caetano, Chico e Trio Preto + 1! Historico e Inesquecivel. Texto de Mauro Ferreira.




Ao traçar sua particular geografia da cidade do Rio de Janeiro (RJ) a partir das 16 músicas que selecionou para o roteiro de Primavera Carioca, show inédito e exclusivo feito em apoio à candidatura de Marcelo Freixo à prefeitura da cidade que Caetano Veloso escolheu para morar na década de 60, o cantor e compositor baiano repisou com elegância os trilhos urbanos que vem conduzindo sua intensa vivência carioca ao longo de mais de 45 anos. A participação especialíssima de Chico Buarque - em Medo de Amar (Vinicius de Moraes, 1958) e nos sambas O X do Problema (Noel Rosa, 1936) e A Voz do Morro (Zé Kétti, 1954) - foi a cereja do bolo recheado com a rica bagagem carioca do anfitrião. Intérprete sagaz, do tipo que se garante apenas com sua voz e seu violão, Caetano foi o senhor da cena quando mergulhou na modernidade atemporal do belo samba-canção Copacabana (João de Barro e Alberto Ribeiro, 1946) - num registro suave como a brisa matinal que areja a Princesinha do Mar na letra do sucesso de Dick Farney (1921 - 1987) - e quando se divertiu com suas próprias hesitações sobre os versos de Pé do meu Samba (Caetano Veloso, 2002), orgulhoso mapa da cidade desenhado por ele para a voz desencanada de Mart'nália. Glorioso em seu outeiro, o cantor enterneceu Menino do Rio (Caetano Veloso, 1979), celebrou a bossa sempre nova da Garota de Ipanema (Tom Jobim e Vinicius de Moraes, 1962), se emocionou ao reviver no samba Madureira Chorou (Carvalhinho e Júlio Monteiro, 1958) a trágica saída de cena da vedete carioca Zaquia Jorge (1924 - 1957) - eternizada neste sucesso do Carnaval de 1968 - e seguiu leve o ritmo da Valsa de Uma Cidade (Ismael Neto e Antônio Maria, 1954).



Em Terra (Caetano Veloso, 1978), o baiano-carioca tirou sons percussivos do violão com a mesma naturalidade com que, quatro números antes, celebrara a beleza eterna de Ela É Carioca (Tom Jobim e Vinicius de Moraes, 1963). Única música que pareceu deslocada nestes trilhos urbanos, Sozinho (1996) reiterou a empatia popular da canção de Peninha que estourou com Caetano em 1998 a ponto de levá-lo ao alcançar a cifra (inédita e única em sua carreira) de um milhão de cópias vendidas do álbum ao vivo Prenda Minha. Na sequência, a entrada em cena do Trio Preto + 1 - quarteto liderado pelo percussionista Pretinho da Serrinha - introduziu no show a batucada quente que aquece os mais nobres quintais cariocas na primavera e nas demais estações do ano. Com seu refinado toque percussivo, o Trio Preto + 1 realçou significados ancestrais dos versos de Desde que o Samba É Samba (Caetano Veloso, 1992), pôs sua tinta na Aquarela Brasileira (Silas de Oliveira, 1964) - número feito sem Caetano, que fez apenas vocais espontâneos no samba-enredo, seguindo o coro da plateia - e caiu feliz em outro samba-enredo, É Hoje (Mestrinho e Didi, 1983), na companhia do anfitrião. Caetano Veloso não é a voz do morro, como cantou no samba do compositor Zé Kétti (1921 - 1999) com que fechou o roteiro em duo com Chico Buarque, mas, de Madureira à Penha, do Leme ao Pontal, o cantor foi dez na maneira e no tom ao reviver tudo o que Rio lhe deu na sonhada Primavera Carioca.













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