RIO - A despeito da admiração dos colegas de geração (como Arícia Mess, Suely Mesquita, Pedro Luís, Mathilda Kóvak) e da atenção que começava a receber da imprensa, o cantor e compositor Luís Capucho quase não fazia shows naquele Rio de meados dos anos 1990. Muito por insegurança, ele diz, traço que sustenta até hoje (“Não acho que as músicas vão brotar de mim para sempre, cada música que componho acho que será a última”). Num desses momentos em que o desejo de mostrar suas músicas foi maior, ele tocou no Café Laranjeiras — uma noite de 1995 que foi gravada, circulou por fitas que chegaram às mãos de pessoas como Cássia Eller e Pedro Luís (que gravaram canções dali) e que, agora, é lançada como o álbum virtual “Antigo”, disponível no site www.luiscapucho.com.
O registro é ainda mais raro por ser o único do músico antes do coma no qual ele mergulhou em 1996, vítima de um espancamento, e que deixou sequelas na sua voz (que ficou rouca) e em seus movimentos, e consequentemente em sua forma de tocar violão (hoje mais cru). Seu primeiro disco solo, “Lua singela”, foi lançado em 2003, e já trazia esse artista radicalmente rascante que ele se tornou.
— Adoro essa fita de 1995. Adoro esse artista que eu não sou mais. Acho que ele é mais “ouvível”. Gostaria de continuar tocando e cantando daquele jeito. Mas ao mesmo tempo acho que essa versão de Capucho que eu sou agora tem a ver com os meus temas. Essa voz estranha, os acordes simples batidos parecem que funcionam mais para o que eu quero dizer — afirma. — Acho que “Antigo” escapa dessa classificação de maldito, underground, que é sempre aplicada a mim. Ele é mais melódico, limpo, suave.
O show nasceu quando o músico — e também escritor, autor dos romances “Cinema Orly”, “Rato” e “Mamãe me adora”, todos lançados depois de seu coma — ouviu a sugestão do violonista Naldo Miranda de fazerem uma apresentação juntos. Convidaram a amiga Suely Mesquita para dirigir, e o resultado pode ser baixado gratuitamente — os outros discos do artista (o coletivo “Ovo”, de 1996, e os solos “Lua singela” e “Cinema íris”, lançado no ano passado) também podem ser ouvidos no site.
Quem passear por seus discos verá uma obra marcada pela ternura — evidente em canções como “Maluca”, gravada por Cássia Eller, ou “Máquina de escrever”, conhecida no registro de Pedro Luís — e pela atmosfera submundo, gauche, gay, sexual, wild side. Ora é mais marcada a doçura, ora a crueza, muitas vezes tudo está junto nos mesmos versos. Uma combinação que tem um resultado profundamente original, seja quando canta a morte ou o fato de conhecer a mãe de um amigo e se surpreender com sua vitalidade.
‘O que faço é sempre MPB’
Seu caminho único, porém, suscita comparações com nomes como Leonardo Cohen ou Lou Reed. Capucho vê todas como infundadas:
— Nunca ouvi muito esses artistas. O que faço é sempre MPB, que é a música que eu sempre ouvi, desde a mais brega até a da classe média — afirma o compositor, natural de Cachoeiro de Itapemirim (ES) como Roberto Carlos e Sérgio Sampaio. — Mas eu tenho uma história underground, talvez a proximidade com esses caras venha daí.
Elogiado por artistas consagrados da MPB, como Ney Matogrosso e Nana Caymmi, Capucho acredita que “Antigo” vem no momento certo, quando sua voz e seus movimentos dão sinais de recuperação.
— Estou conseguindo hoje chegar mais perto desse Luís Capucho anterior ao coma. Faz mais sentido, então, torná-lo mais público.
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valeu, Luciane!
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