sábado, 29 de junho de 2013

Deus e Eu - Antonio Monda


A ideia de Deus, um ser onisciente, onipotente e que, além disso, nos ama, é uma das mais ousadas criações da literatura fantástica. Preferiria, de todo modo, que a ideia de Deus pertencesse à literatura realista.
Jorge Luiz Borges



O senhor/ a senhora acredita em Deus?

Paul Auster, escritor: Não. Não acredito. Mas isso não quer dizer que não considere a religião um elemento culturalmente fundamental da existência.

Saul Bellow, escritor: Sim.
E como o imagina?
Não gostaria de falar disso. Temo correr o risco de banalidade e creio que esse é um daqueles assuntos em que a conversação mortifica a grandeza do tema.

Michael Cunningham, escritor: A parte mais grave de mim mesmo, aquela que está seriamente decidida a não se deixar enrolar por ninguém, diz: "O que está esperando? Admita: Deus é uma coisa que inventamos para poder viver com a consciência da nossa mortalidade.".Ou, se preferir que eu enfrente a pergunta (...) digo que suspeito de que existam relações profundas e ainda não descobertas entre Deus e os princípios da física. E eu acredito na física.

Nathan Englander, escritor: Não sei. Tenderia a dizer que não acredito, se não tivesse medo de uma reação dele.

Richard Ford, escritor: Não.

Paula Fox, escritora: Não. E sobretudo não creio na imagem comum de Deus, masculina.
(...) Mas creio no mistério e na beleza. E ambas as coisas acabam por encontrar uma representação. Considero que aquilo que é definido como Deus é a resposta que cada um de nós encontra para obedecer a uma lei interior própria.

Jonathan Franzen, escritor: O que você entende por Deus? Que definição dele você dá?
[Um ser onipotente que nos criou]
A verdade é que não tenho uma resposta precisa. Uma parte de mim acredita, mas tem problemas muito sérios para definir esse ser onipotente. Eu certamente não creio na imagem clássica de Deus. Sei que não é um ser onipotente que domina tudo o que existe como se estivesse diante de um posto de comando. Francamente, não acredito no Deus que responde às preces, mas acho que tudo o que vemos com os nossos olhos e vivemos com os nossos sentidos é, na realidade, uma ilusão. Não sou materialista, e além dessa ilusão, sei que existe algo de maior e importante. Creio que existe algo de eterno e tenho um grande respeito por qualquer experiência mística. É uma parte essencial da minha vida.

Spike Lee, cineasta: Não.
[O que a fé representa pra você?]
Uma coisa que não tenho.
(...) Sinto que existe uma presença, mas não sei se posso chamá-la de Deus.

Daniel Libeskind, arquiteto: Sim.
[Qual sua ideia de Deus?]
Não tenho uma ideia precisa, nem creio que seja possível ter uma.



Corpus Hypercubus, Salvador Dali - 1954


David Lynch, cineasta: Creio que existe um ser divino, onipotente e eterno. Estou convencido de que existe alguma coisa, aliás muitas, que nós não conhecemos e das quais vemos apenas as aparências.

Toni Morrison, escritora ganhadora do Nobel: Creio em uma inteligência interessada naquilo que existe e respeitosa daquilo que criou.

Grace Paley, contista, poeta e ativista política: Não. Mas tenho um interesse profundo pelas bíblia. De um ponto de vista histórico e literário.
[Acredita na figura histórica de Cristo?]
Sim, com certeza, e acredito que foi um dos maiores e mais profundos pensadores da História. Negar isso seria, além de tudo, um ato de ignorância.

Salman Rushdie, escritor: Creio que nunca acreditei.
[O senhor acredita na alma?]
Creio que existe algo de misterioso e incompreensível, que, no entanto, não é transcendente ou sobrenatural. Uso, portanto, o terno "alma" porque não existe nenhum outro mais eficaz ou mais secular. Em outras palavras, creio em uma alma mortal.

Arthur Schlesinger Jr., historiador e crítico social: Sou agnóstico.
[Como o senhor se coloca diante da morte?]
Não pode existir paraíso sem inferno. Mas eu não acredito em nenhum dos dois. Creio que a morte é, simplesmente, o fim.

Martin Scorsese, cineasta: Não creio que possa dar uma resposta precisa. Acredito que minha fé em Deus reside em minha busca constante. Mas defino-me certamente como católico.

Derek Walcott, poeta, dramaturgo e artista plástico: Sim.
[E como é esse Deus?]
É difícil, aliás, impossível, separá-lo da imagem que me foi inculcada desde a infância. Um homem branco de barba, Sábio e velho.
[Mas além dessa imagem, o que vê?]
Não vejo nada além do risco da banalização. Sob alguns aspectos, além dessa imagem começam as dúvidas.
[E que relação o senhor tem com esse Deus?]
Inconstante.

Elie Wiesel, sobrevivente dos campos de concentração nazista, Prêmio Nobel da Paz: Sim, por certo.
[Posso perguntar como o imagina?]
Certamente que pode me perguntar, mas eu tenho de responder que não o imagino.

(Deus e eu - Antonio Monda - editora Casa da Palavra)



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