domingo, 24 de novembro de 2013

O melhor musical ever, segundo Xexéu!




Não há espetáculo recente, pelo menos entre os que se classificam como superprodução, que tenha uma produção tão caprichada quanto a de “Elis, a musical”, o espetáculo dirigido por Dennis Carvalho, em cartaz no Rio, no Teatro Casa Grande. Virou lugar comum dizer que os musicais brasileiros já atingiram o nível dos espetáculos de Nova York e de Londres. Não é verdade. Não atingiram nem mesmo o nível do que se realiza no Canadá ou na Alemanha. Alguns problemas já foram realmente superados, como a existência de elencos capacitados para cantar e dançar e a equalização do som, que não faz mais o espectador se torcer para entender o que está sendo cantado no palco. Mas ainda há uma longa trilha a percorrer. 
Com “Elis, o musical”, parece que esta trilha começa a ser percorrida. A luz mágica de Maneco Quindaré e a cenografia aparentemente simples mas altamente sofisticada de Marcos Fleiksman dão credibilidade a uma série de cenários como o Beco das Garrafas, um auditório de TV, um estúdio de gravação e o que mais foi exigido no texto de Nelson Motta e Patrícia Andrade. 
Um espetáculo como este precisa de uma protagonista irresistível. E “Elis, a musical” tem. Laila Garin é uma estrela. Na sua carreira, Laila tem um estilo que a aproxima mais de Gal ou Marisa Monte do que de Elis ou Ângela Maria. No palco do Casa Grande, ela sofre uma transformação. Cantora excepcional (consegue ficar mais parecida com Elis nos graves do que nos agudos), ótima atriz (quando fala, aí, sim, é a própria Elis), dela é exigido mais do que se pode exigir de qualquer boa atriz. E ela responde. O público delira. Mas a grande surpresa do elenco é Felipe Camargo. Divertido, discreto, sem jogar para a plateia, ele compõe um Ronaldo Bôscoli irrepreensível e, melhor de tudo, que canta muito bem. 
“Elis, o musical” tem momentos emocionantes, como a reprodução do pot-pourri que Elis e Jair Rodrigues faziam nos tempos de “O fino da bossa” ou, quase no finzinho do espetáculo, quando Laila (ou Elis?) mostra uma interpretação arrebatadora da obra-prima “Aos nosso filhos”, de Ivan Lins e Vitor Martins. Há também cenas constrangedoras, como aquela em que, num salão de cabeleireiros, o coro canta “Alô alô marciano”. Por estranha coincidência, a mesma situação foi escolhida, 11 anos atrás, para ilustrar a mesma canção em outro musical que já homenageou a cantora, “Elis, a estrela do Brasil”, de Douglas Dwight e Fátima Valença. Já naquela ocasião não tinha dado certo. É meio incompreensível também a seleção de canções de Milton nascimento, no começo do segundo ato, fora de contexto num espetáculo tão rigorosamente biográfico e cronológico. 
“Elis” privilegia os números musicais deixando o texto em segundo plano. Mesmo assim, há momentos com bom diálogo, como o da briga entre Elis e César Camargo Mariano (Cláudio Lins) ou o dos bastidores da gravação de “Elis e Tom”. 
Resumindo: há muito altos e alguns poucos baixos. Mas na hora de analisar o custo-benefício, “Elis, a musical” é imperdível. Durante duas horas e meia, a produção oferece ao público o que é realmente um espetáculo. Pela reação da plateia na noite de quinta-feira passada, sobrou emoção que se espalhou até pelas calçadas da Avenida Afrânio de Mello Franco. E já há uma marca que ninguém tira desta produção: “Elis, a musical” tem o melhor título de musical brasileiro de todos os tempos.


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