sexta-feira, 8 de abril de 2011
Marcelo Tas mostra foto da filha gay e dá 'lição' em Bolsonaro.
Crônica de Bárbara Gancia sobre o tema:
NÃO É PRECISO ser nenhum Contardo Calligaris, nenhuma Rosely Sayão, diria que não é preciso nem mesmo saber se Sigmund Freud vivia entre os aborígenes australianos ou em Viena e Londres do século 19 para ter certeza de que o atirador que encerrou prematuramente a vida de 12 brasileirinhos tinha um problema de ordem sexual.
Fico pensando no quanto alguém tem de estar perturbado para se imaginar nu e sem sopro, jogado sobre a pedra fria do IML depois de cometer um crime bárbaro seguido de suicídio, cuja única preocupação ao se ver nessa posição seja a de que irá ter o corpo manipulado por mãos ímpias, ou melhor dizendo, por quem já perdeu a virgindade.
Tudo bem, os especialistas falam em esquizofrenia, em surto e coisa e tal. Mas eu fico pensando. O pedido que ele deixou na carta-testamento encontrada pela polícia foi esse, não? Que quando seu corpo estivesse sendo preparado para ser sepultado, não deveria ser tocado por nenhum "impuro", "fornicador" ou "adúltero". Será que ele imaginava estar livrando as crianças que matou do pecado?
Foi sugerido que o atirador pudesse ser portador do vírus da Aids. Ué? Ele tinha histórico de compartilhamento de seringas por uso de drogas? Ou se imaginava como tal em mais uma de tantas facetas de uma identidade fragmentada? Agora é fácil perguntar, mas como é que ninguém ao seu redor percebeu tamanho sofrimento?
E faz sentido que, quando parece estar manifestando sua espiritualidade, ele só consiga papagaiar uma caricatura de talibã que nada tem a ver com o islâmismo. O sujeito definitivamente tentava de tudo para dominar seus instintos mais rudimentares.
Em uma sociedade evoluída, a questão da preferência sexual -são quantas, 15 ou, sei lá, 56 opções no cardápio? Sendo que ao menos 55 parecem mais ou menos iguais- não deveria ser valorizada, discutida ou sequer admitida a sua existência. Sexualidade é uma só, posto que todos temos um cérebro, um coração, uma libido e uma língua. Por isso chamamos de "sexo" e não de "atletismo" ou quiçá de "boliche", justamente porque versa sobre o íntimo e metade ou mais da graça reside em seu mistério.
Alô, seu Bolsonarossauro! Até quando o Vaticano vai usar a sexualidade da gente como instrumento político é o que a gente deveria estar se perguntando, não se a Preta Gil faz suruba.
Nesta semana, a polícia encontrou o corpo de uma garota de 16 anos, em Itarumã, Goiás. Suspeita-se que tenha sido morta a facadas, depois de ter sido emboscada por parentes de sua namorada que não aceitavam o relacionamento.
Em outro caso, no sábado passado, Michael, jogador do Vôlei Futuro, se viu forçado a assumir sua homossexualidade publicamente ao ser humilhado em estádio de Contagem, MG. "Foi a primeira vez que vi um estádio inteiro gritando "bicha" em alto e bom som", diz. "Tinha até criança, senhora, muita gente gritando". Pois eu digo que ninguém mais merece sofrer por causa da sexualidade. Ninguém.
Para combater a boçalidade, Marcelo Tas nos apresentou sua filha Luísa no "CQC" desta semana, uma luminosa estudante de direito, bolsista da American University em Washington e estagiária da OEA: youtube.com/watch?v=WLhxyOMriXU.
Fui às lágrimas quando vi e agradeço profundamente pelo gesto.
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