Durante meio século, a paixão comum de um casal abastado e a audácia de comprar objetos de arte que na época só seduziam poucos, reuniu uma das coleções privadas mais importantes da história contemporânea. Ela tornou-se impossível de ser refeita. Depois do “leilão do século”, Pierre Bergé (na foto) disse o seguinte: “Eu cheguei em uma idade onde não se compra mais vinhos jovens, onde não se plantam árvores pequenas, portanto não recomeçarei uma nova coleção.”
Cravado no centro de Paris um espaço de 1.600 metros quadrados coberto pela redoma de vidro do Grand Palais, é uma ilha no oceano da crise econômica mundial que submerge países ricos e pobres. Ontem, iniciou-se o leilão das obras de arte do costureiro Yves Saint Laurent e do seu companheiro, o empresário francês Pierre Bergé.
Mais de 25.000 pessoas participaram de uma ambiente elétrico em razão dos lances espetaculares. Houve quem gritou milhões como se eles fossem centavos.
Muito pouca gente é capaz de desembolsar 22 milhões de euros por uma cadeira. Desde ontem, a Poltrona Eileen Gray tornou-se o segundo móvel mais caro do mundo depois do Badmington Cabinet (27 milhões de euros). Um detalhe edificante: YSL comprou a poltrona Art Déco, em 1971, por pouco mais de 3.000 euros.
Ainda que a obra mais valiosa — Instrumentos musicais sobre a mesa, um óleo pintado por Pablo Picasso na sua fase cubista — não tenha sido vendida, a Coleção Yves Saint Laurent-Pierre Bergé quebrou todos os recordes: 373,5 milhões de euros. A qualidade da coleção foi julgada excepcional pelos especialistas, mas a grandeza do feito é ainda maior se considerado a atual crise econômica mundial.
Ir ao Grand Palais para assistir o leilão parecia tomar um foguete para um outro planeta. Enquanto o assunto dos jornais eram dominados pela escassez de crédito, lances de milhões de euros zumbiam debaixo do domo envidraçado de uma das mais belas construções da Exposição Universal de 1900.
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