domingo, 24 de agosto de 2014

O dia que fiquei invisivel!


Essa foi uma das historias mais bizarras que vivi. Lá pelos idos de 1998 ou 1999, convidei tres amigas para um final de semana na casa que minha família tinha em Arraial. Resolvemos ir a praia mais bonita da cidade e considerada a mais bonita do Brasil: prainha do pontal. Fica num local íngreme, parte da estrada ainda é de terra e temos que parar o carro nas margens da estradinha e descer o morro até alcançarmos o paraíso na terra. Assim fizemos. Passamos o dia todo nos divertindo e ao finalzinho do dia subimos o morro para pegar o carro e ir embora. 
Minhas três amigas estavam um pouco adiantadas e entraram no carro antes de mim, pois fui fotografar o por do sol! 
Aí começa a historia: a amiga que estava justamente dirigindo o carro propos que fossem andando alguns metros de carro pela estrada até me encontrar, eu estava bem pertinho fotografando. Só que esse encontro nunca aconteceu! Elas simplesmente nao me viram e nem tampouco eu as vi passar no carro. Sendo que é uma única estreita estrada e racionalmente falando nao teria como isso acontecer. E eu fui andando, andando, e a noite chegou, tudo ermo e elas também percorrendo a (unica e estreita) estrada pra la e pra ca e nada de me encontrar. Bateram na porta das poucas casas do local pedindo ajuda, perguntando se eu havia passado no local, pedido agua ou algo assim. Nada, nada! O que me fez concluir que eu só podia estar invisível e elas também, ne? Pois nao tinha como a gente nao se ver. O final da estrada era sem saida, só havia um caminho possivel e estavamos nele: eu e elas! Isso durou umas tres horas na escuridao da noite!
O fim da historia? Elas acabaram indo para casa aguardar algum contato meu, e eu desci todos os 5 km do pontal até a cidade no escuro, apenas com uma canga amarrada no corpo, sem dinheiro, sem agua, sem nada. Era o inicio da era celular e havíamos deixado os celulares-tijolos em casa, claro, quem ousaria levar celular para a praia? Quando cheguei na cidade do Arraial liguei a cobrar para uma delas e vieram me resgatar. 
Muito estranha essa historia, nao acham? 


Camafeu de Oxóssi por Paloma Jorge Amado!

Crônica de Domingo, 24 de agosto de 2014: Camafeu de Oxóssi e seus irmãos, Obás de Xangô

Que tem como epígrafe, versos da canção 
"Mãe Stella", de Dorival e Danilo Caymmi:

O orixá caçador
A lua da cor de prata
Meu caminho iluminou
Na roça minha mãe me disse
Meu filho esse é teu orixá
Orixá que te acompanha
É Oxossi nosso pai

Oxóssi veio das matas e foi tomando das cabeças de seus filhos. O primeiro foi Hector Julio, e esse deu trabalho, pois resolveu nascer lá na Argentina, esse baiano. Ainda bem que um dia tomou juízo, pegou dona Nancy e o filho Ramiro pelo braço*, e veio pintar a Bahia. Era o pintor Carybé, Obá Onansokum
O segundo foi mais fácil de encontrar, pois já estava nas matas do cacau, o filho Jorge, bem ali no Sul da Bahia. Foi escrever livros. Era Jorge Amado, Obá Arolu.
O terceiro foi o menino de seu Durval e dona Aurelina, nascido na Cidade do Salvador da Bahia de Todos os Santos. Este foi difícil, Xangô e Oxalá discutiam por sua cabeça, dona Oxum dizia que o pequeno era dela. Yemanjá vinha chegando.... 
-- Briguem a vontade, vou ser padrinho do menino, disse Oxóssi, certo de que afilhado, filho é! E seu filho será meu filho! E nem se metam a besta com o menino Danilo, que um dia vai nascer!
O afilhado foi compor e cantar. Era Dorival Caymmi, Obá Onikoyi.
O mais novinho dos quatro foi Ápio, soteropolitano como o irmão Caymmi, Oxóssi o encontrou no bairro do Gravatá. Mestre de capoeira e músico, foi o que adotou seu nome. Era Camafeu de Oxóssi, Obá Aresá.
Os quatro filhos de Oxóssi foram irmãos por toda uma vida, vida plena de arte e luta pelo ser humano. Cumprindo a risca seus deveres de ministros do Candomblé do Axé Ópô Afonjá, os quatro Obás de Xangô.
Muito já falei dos três primeiros, hoje quero contar um pouco de Camafeu, Camafa no dizer dos irmãos. Pessoa melhor nunca vi. Igual, vi poucas. Era casado com Toninha, pessoa terna e gentil, de imensa beleza, a Bahia se estampava em seu rosto.
O casal estava sempre em nossa casa do Rio Vermelho. Exímio tocador de berimbau, tenho muito orgulho em dizer que com ele aprendi a tocar este instrumento, único que toco até hoje. Nas domingueiras, Camafa ia do berimbau ao pandeiro, acompanhando o irmão Caymmi.
Toda vez que o Jorge chegava de viagem, era o primeiro a esperá-lo no cais, com as novidades do Axé e da cidade.
-- Agora sou presidente dos Filhos de Ghandi, meu irmão. Há muito o que fazer por nosso Afoxé! Comerciante, dono de três barracas no Mercado Modelo, vendia não só para os turistas, era ali que o povo do candomblé buscava material para o ritual, contas, patuás, obis, que ele recebia diretamente da África.

Um dia, uma senhora paulista foi à casa do Rio Vermelho pedir ajuda. Vinha de longa viagem de ônibus em busca do "intelectual que lhe viraria a sorte". A história era que sua vida tinha afundado, perdera tudo o que possuía, e acabara num terreiro de Umbanda, onde uma Pomba Gira* lhe mandou ir à Bahia procurar o intelectual mais importante, que este lhe diria onde encontrar um anel africano que consertaria para sempre sua vida. Deu a ela um desenho detalhado do anel. Para viajar, teve que vender sua máquina de costura, seu ganha-pão!, e descobrir o que era e quem era o tal intelectual. Foi assim que, depois de três dias na cidade, bateu na rua Alagoinhas em busca de Jorge Amado, e não o encontrou. Ia embora para São Paulo no dia seguinte, inteiramente desesperançada. Naquela noite, o Candomblé do Axé Ópô Afonjá tinha grande festa, e uns hóspedes da pensão em que estava a convidaram para ir com eles se distrair. Ao chegar, a primeira pessoa que viu foi o Obá Arolu, isso mesmo, Jorge Amado em carne e osso. Partiu célere:
-- Jorge Amado, cadê o meu anel africano?, disse ela sem mais nenhuma explicação.
Sem nunca ter entendido porque respondeu assim, ele olhou para o lado, viu seu irmão Camafeu, e disse, apontando para o Obá Aresá, com toda a certeza que era possível:
-- Seu anel está com Camafeu, vá pedir a ele.
Ela foi, ele tinha o anel, exatamente igual ao do desenho. Uma partida de contas e anéis tinha chegado da África naquela manhã, ele vendera tudo menos o anel da moça...
E quem duvida que a vida dela mudou? Mágica Cidade da Bahia!

O primeiro a partir foi Camafeu, levado por Oxóssi para junto de Olorum. Quando seu irmão Jorge foi também, um dia, suas mulheres, dona Toninha e dona Zélia, filhas de Oxum*, irmãs na beleza e no dengo, foram convidadas para uma cerimônia no Dique do Tororó (morada de Mãe Oxum). A Prefeitura havia ganho dois casais de cisnes, um branco e um preto, que receberam os nomes de Jorge e Zélia, Camafeu e Toninha. Animação, foguetório, os bichinhos (bichões!) foram levados para a água. Entraram agitados, depois tranquilamente, fizeram novos pares. Foram um casal branco e preto para um lado, outro preto e branco seguiu novo rumo.
-- Olha que danadinhos, comadre Toninha, trocaram as mulheres!
-- Mas não era isso que o compadre dizia que se devia fazer, minha irmã? O bom é misturar!
Foi uma gargalhada só.

Bom domingo a todos! E vivam os filhos de Oxóssi! Além dos quatro Obás, vamos vivar minha filha Mariana, Kátia Badaró e Danilo Caymmi. Okê Arô!

* Sossó nasceu na Bahia, para alegria de todos nós, iniciando as gerações dos Bernabó baianos natos!
*Para quem não sabe, Umbanda não é Candomblé, onde a figura da Pomba Gira não existe.
* Nancy, mulher de Carybé também é filha de Oxum.

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Os tristes palhaços


DANIEL MARTINS DE BARROS

Terça-Feira 12/08/14

Do Pierrot, que vivia triste por conta da Colombina na commedia dell’arte já no século XV até o antissocial Krusty, o palhaço distímico e viciado dos Simpsons, a figura do sujeito que expõe a contradição humana ao carregá-la em suas costas é constante. (…) Ainda que não sejam doentes os comediantes caminham na corda bamba, e da mesma forma que o equilibrista nos emocionam justamente por correrem o risco de cair.



“Ouvi uma piada uma vez: Um homem vai ao médico, diz que está deprimido. Diz que a vida parece dura e cruel. Conta que se sente só num mundo ameaçador onde o que se anuncia é vago e incerto.
O médico diz: “O tratamento é simples. O grande palhaço Pagliacci está na cidade, assista ao espetáculo. Isso deve animá-lo.”
O homem se desfaz em lágrimas. E diz: “Mas, doutor… Eu sou o Pagliacci.”

A fala acima, da série de quadrinhos Watchmen, resume bem uma das figuras clássicas da humanidade, a do palhaço trágico. Do Pierrot, que vivia triste por conta da Colombina na commedia dell’arte já no século XV até o antissocial Krusty, o palhaço distímico e viciado dos Simpsons, a figura do sujeito que expõe a contradição humana ao carregá-la em suas costas é constante.

As mortes do ator Robin Willians e do também humorista Fausto Fanti, ambas provavelmente por suicídio, são a face mais trágica de uma condição que se comprova mais comum do que imaginamos, segundo um estudo publicado nesse ano. Nada menos do 523 comediantes foram convidados a preencher uma escala de sentimentos e experiências que avalia sintomas próximos do transtorno bipolar e da esquizofrenia: (a) Experiências inusitadas – como pensamento mágico, crença em telepatia e outras distorções da percepção; (b) Desorganização cognitiva – distraibilidade e dificuldade em focar os pensamentos; (c) Anedonia introvertida – capacidade reduzida de sentir prazer social ou físico, incluindo aversão à intimidade; e
(d) Não-conformismo impulsivo – tendência à impulsividade e reduzido autocontrole. Como comparação, 364 atores e 831 não artista também responderam às perguntas. Os resultados mostraram não só que os comediantes obtêm pontuações mais altas do que a população geral em todos os aspectos, como também vão além dos atores, levando tais características ao limite. Ainda mais significativo, ao contrário dos atores os humoristas apresentavam ao mesmo tempo altos níveis nas dimensões de anedonia e de impulsividade, o que para os pesquisadores é um paradoxo: uma apontaria para introversão e depressão, a outra para extroversão e euforia. Parece que para fazer rir é preciso ter uma personalidade parecida com a antigamente denominada psicose maníaco-depressiva.

De fato a capacidade de juntar elementos distintos é uma característica da criatividade, mas também das psicoses. Já a habilidade de fazê-lo de forma surpreendente e rápida é central para o humor, mas surge igualmente nos episódios maníacos. Sendo assim, o dom de criar piadas parece ser mais fácil para as pessoas que vivem perigosamente próximas tanto da psicose como dos picos e vales do humor. Ainda que não sejam doentes os comediantes caminham na corda bamba, e da mesma forma que o equilibrista nos emocionam justamente por correrem o risco de cair.



segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Kangoo jumps! Nova moda fitness?

RIO — Os dias de inverno têm sido tão ensolarados que até novidades de verão andam se antecipando ao calendário de modismos cariocas. Quem caminha pela Lagoa Rodrigo de Freitas, por exemplo, já deve ter percebido o número crescente de empolgadíssimos adeptos de uma modalidade esportiva, que atende pelo curioso nome de kangoo jumps. Depois de chegar às academias, o exercício aeróbico é agora praticado ao ar livre com um apelo irresistível: queima bem mais calorias do que uma simples corrida, com a vantagem de amortecer o impacto das articulações em 80%. O problema é que não dá para treinar sem chamar a maior atenção de quem passa. Tudo por conta do equipamento chamativo — um “parente” próximo dos patins e das botas de ski. Mas quem se importa?



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