"Berlim é uma cidade tocante pelo desejo manifesto de não tapar os olhos e de não
esquecer. Fiquei, nestes dias, no apartamento de uma amiga querida, em
Schöneberg, perto de Bayerischer Platz: pelas ruas, a cada poucos metros, há
placas que lembram coisas que aconteceram, justamente, enquanto os vizinhos não
viam, ou preferiam não ver.
15/4/37: "Formaturas proibidas para judeus";
21/2/39: "Os judeus devem entregar joias e objetos de ouro, prata, platina e
pérolas"; 4/7/40: "Os judeus só podem comprar alimentos em Berlim das 4 às 5 da
tarde".
A existência dessas placas traduz um estado de espírito que faz de
Berlim, hoje uma sociedade extraordinariamente livre, como só são livres as
coletividades em que cada um é mais preocupado com a liberdade do vizinho do que
com a sua própria.
E faz todo sentido: a liberdade do vizinho (sobretudo se
ele for muito diferente de mim) é sempre a melhor garantia de minha própria
liberdade.
Viveremos livres (mesmo) quando houver religiosos fundamentalistas
desfilando para o direito de prostitutas trabalharem na esquina de sua igreja.
Ou quando houver praticantes de SM ou de swing defendendo o direito de um templo
abrir suas portas ao lado dos clubes nos quais eles se reúnem. "
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