Uma mulher, nascida em 1929 na cidade de Matsumoto (província de Nagano).
Atormentada desde a infância, Yayoi Kusama é seu nome.
Filha de uma mãe insegura e desiquilibrada, pai ausente.
Infância e juventude sofrida demais.
Viu de perto a segunda guerra mundial, a fome, o desprezo.
Desde que se entende por gente, Yayoi enxerga um mundo de pontos coloridos em tudo, em todos.
Talvez em reposta à tanto sofrimento, a mente de Yayoi Kusama encontra uma forma de sobrevivência emocional: a fuga da dura realidade - a piora no quadro esquizofrênico - desenvolvimento da loucura.
Como toda loucura, apenas Yayoi Kusama vivencia seu mundo graficamente estranho.
Mundo que a deprime em tal grau, pesado demais para uma criança suportar.
Yayoi tenta o suicídio. Não foi bem sucedida.
Aos dez anos Yayoi começa a reproduzir no mundo real as imagens gráficas e esquizofrênicas que só ela enxergava.
Suas obras são um retrato de si mesma, uma forma de materializar e mostrar seu louco mundo aos ditos normais, para tentar ser compreendida por eles.
Ver reproduzido seu mundo mental em realidade paupável para os normais aliviou a carga emocional de seu mundo mental.
Com sua arte os outros também viam seu mundo louco, ele existia para todos.
A obra de arte se chama "A flor que se abre a meia-noite".
Ou seja, na maior escuridão de sua vida, no momento mais duro de sua existência, a arte salvou Yayoi Kusama de sua dor. A flor que lhe trouxe uma nova vida e deu sentido ao existir.
Se o mundo entendeu a loucura de Yayoi Kusama?
Sim. E a tornou uma das mais famosas artistas de vanguarda mundiais.
Em 1945 o Japão tinha 70% de seu território destruído pelos bombardeios americanos.
Um país faminto, triste, derrotado. Famílias inteiras dizimadas.
Milhões de mortos.
Muitos à enterrar, chorar por eles.
E pouco espírito para apreciar uma arte de vanguarda estranha até mesmo para os padrões atuais.
As pessoas queriam uma arte leve, nada que piorasse a já debilitada condição psicológica dos japoneses traumatizados.
Yayoi Kusama se interessou profundamente pelo trabalho de uma grande pintora americana: Georgia O'Keefee (ela já foi tema da blogagem coletiva por aqui, lembram?) .
Ambas trocaram correspondência por muitos anos, a americana convenceu Yayoi a deixar o Japão para mostrar sua arte em Nova Iorque.
A japonesa relutou, mas seguiu para os Estados Unidos aos 27 anos (1956).
Ficou lá por duas décadas.
Yayoi sabia o que era o sofrimento de uma guerra, viveu a maior delas.
Viveu nos Estados Unidos até 1973.
Decidiu retornar ao Japão, pois estava emocionalmente esgotada: seu grande amigo, o escultor Joseph Cornell, falecera.
E ela não suportava mais o clima de guerra no país, a guerra do Vietnã parecia não acabar nunca.
Internou-se voluntariamente em um hospital psiquiátrico assim que retornou ao Japão.
E vive lá, até hoje, produzindo arte.
Seu atelier é bem pertinho do hospital.
Quadro de Yayoi Kusama, No. 2 - 1959
Foi leiloado por 5,794,500 dólares pela
Christie’s New York em 12 de novembro de 2008.
A obra de artista mulher (viva) que atingiu o maior valor em um leilão até os dias de hoje.
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