terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

O fim da blogosfera moleque. Por Cora Ronai.

Não consigo imaginar um lugar mais interessante para um estudante passar a semana do que a Campus Party, grande pajelança tecnológica que reuniu sete mil pessoas no Anhembi, em São Paulo, e que termina amanhã. Os organizadores usam termos superlativos para descrevê-la, o que é compreensível (e verdadeiro) mas, de tudo o que dizem, a melhor definição talvez seja a que compara o evento à “internet de carne e osso”: é para a Campus Party que convergem membros de diversas tribos que se comunicam online para animados encontros ao vivo, sem hora para começar ou terminar.



Como funciona a coisa? Em linhas gerais, assim: a organização oferece um espaço para que os campuseiros armem suas barracas e instalem os seus computadores, mais internet de banda muuuuito larga e atrações de todos os tipos dentro do variado leque da cultura geek. O espaço onde ficam os computadores e onde vão ao ar palestras, debates e concursos, não é fechado em momento algum. São 24 horas de atividade porque, como é sabido, nem todos os bípedes são iguais, e muitos cultivam hábitos noturnos.

No dia em que estive lá, por exemplo, passei por uma palestra viajante que abordava a existência de discos voadores como fenômeno real e reconhecido por vários governos mundo afora, ao lado de um debate muito pragmático sobre empreendedorismo na internet – apenas dois exemplos dos extremos que, no encontro conhecido como #cpbr5 , se tocam continuamente. Entre palestrantes e debatedores, há de nomes conhecidos por apenas meia dúzia de pessoas a estrelas internacionais com centenas de milhares de seguidores no Twitter.



A qualidade da turma enche o coração de alegria. São meninos (e algumas meninas) inteligentes, ligados, com excelente conhecimento das áreas que curtem. Conversar com eles é interagir com gente grande, na melhor acepção do termo.

Minha participação na festa foi debater com Carlos Merigo (Brainstorm 9), Thiago Mobilon (Tecnoblog), Pedro Burgos (Gizmodo Brasil), Clara Averbuck e Alexandre Inagaki (Pensar Enlouquece) algo que recebeu o título de “O fim da blogosfera moleque”. Basicamente, pensamos em voz alta sobre a evolução dos blogs ao longo da última década, uma evolução que, na verdade, não surpreendeu a nenhum de nós, blogueiros de primeira hora, que sempre acreditamos no poder da comunicação online, e que vimos os indefectíveis diários de adolescentes transformarem-se, com o tempo, em ferramentas profissionais respeitadas.

O que nós observamos, recentemente, e que não era possível adivinhar no “mapa astral” dos antigos blogs, foi a interferência das redes sociais nas caixas de comentários. Quanto mais crescem as redes, mais diminui a quantidade de comentários nos posts – não porque eles não sejam lidos, mas porque os leitores têm mais canais para divulgar a sua opinião. Assim, um tema postado num blog ganha repercussão no Twitter e no Facebook, para além dos limites da blogosfera.

As caixas de comentários, por sinal, continuam sendo um grande problema. Elas têm o estranho poder de atrair o lado negro da força, e de nos fazer perder a fé nos nossos semelhantes. Muitos blogueiros já jogaram a toalha e simplesmente as desabilitaram; outros, mais pacientes, continuam capinando fora as intervenções de trolls e outras almas mal-amadas. O preço de uma caixa de comentários saudável ainda é, infelizmente, a eterna vigilância.



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