“Vida de negro é dificil, é dificil como quê”… Já cantava a escrava branca Isaura na novela. E isso porque ela nem tinha que rebolar na boate turca da Cláudia Raia. Mas todos nós sabemos que pra nenhum deles foi fácil. Nem nos Estados Unidos de anteontem, nem no Brasil de ontem, e nem mesmo na África, o continente de origem, onde até hoje a vida é mais difícil para eles que em qualquer outro lugar.
Não é preciso lembrar a ninguém (ou é?) a vinda nos navios negreiros, os apartheids, a Rosa Negra Parks se recusando a sair do busão branco nos Estados Unidos, Martin Luther King, Panteras Negras, Wilson Simonal tendo sua carreira destruida pelos brancões do jornal O Pasquim, jogadores de futebol sendo chamados de macaco pela torcida européia, a polêmica das cotas e agora os amados povos de Deus se recusando a estudar cultura africana em Manaus.
Sim queridos, a coisa ainda é puxada, mas não vamos falar dos problemas da vida de negro às vésperas desse dia da consciência deles (é nesta terça-feira), e sim do que eles trouxeram de melhor pro mundo: além da beleza fisica, que ainda não se encontra hoje na Rua Garcia d´Avila, no Rio, nem na Oscar Freire, em São Paulo, eles trouxeram pro mundo e principalmente pro século passado a música, que ressoa e ressoará por muito tempo. Sim, a black music é o que há. Principalmente pra quem (como eu) é fã irremediável de cultura pop. É impossível resistir a um gingado negro.
Hoje na tv brasileira podemos exemplificar a cultura negra popular em pelo menos três produções no Plim Plim. Na caprichada novela das 6 temos já na abertura dois dos três alicerces da influência africana no Brasil: o batuque que virou samba e a dança-luta capoeira que, junto com o europeu football, trouxe nosso especial gingado tanto pra dança como pro esporte. A religião afro está de fora dessa novela, provavelmente pra não espantar o tão por mim querido povo de Deus. Salve Jorge, mesmo não falando de negros, traz em sua abertura o negro da nova geração mais estiloso do Brasil: Seu Jorge (na velha geração foi eleito pelo jornalista e editor de moda, o falecido e talentoso Fernando de Barros, o sempre chique Luis Melodia como um dos homens mais elegantes do país). A musica e o tema do santo guerreiro também é de forte influência black. Há, por último, a série Subúrbia que é talvez a produção mais negra que a globo já botou no ar (só me lembro de uma que chegou mais perto da cultura negra: foi Tenda dos Milagres, adaptação da obra de Jorge Amado feita pelo já conhecido e sempre falastrão senhor da casa grande desse espaço).
O samba é a mistura da melodia do branco com o chocalho do indio e o batuque do preto; mas Suburbia não fala de samba. Suas influências são da cultura negra mais recente, principalmente a americana, que se tornou conhecida em meados dos anos 60 e que teve seu auge no soul-funky-disco dos anos 70.É o lado negro da força de James Brown, Marvin Gaye, Barry White, Michael Jackson, Donna Summer (no Brasil, nosso maior expoente foi o síndico Tim Maia).Um movimento que nasceu tímido com o rock (inventado pelos negros mas ofuscado pelo rei branco Elvis Presley) e que, com a soul music e o funky, não teve espaço pra leitoso azedo. Era Malcom X e Luther King gritando pelos direitos civis de um lado e James Brown rebolando e gritando de outro. A voz, o orgulho e o cabelo negro foram crescendo e aparecendo. Foi a época de ouro da gravadora negra Motown, programas como Soul Train e aqueles filmes do chamado blaxploitation.
É essa principal influência de Suburbia. Os filmes que eram feitos e dirigidos exclusivamente para os negros. Filmes B que misturavam às vezes sucessos da época com violência, musica e sexo.E da-lhe Kung-Fu Black, Dracula Black (o poster na foto abaixo), 007 Black, Poderoso Chefão Black,Tubarão Black…
Quentin Tarantino bebeu muito dessa fonte e até trabalhou com uma das atrizes mais expoente desse movimento, Pam Grier a pantera negra que adorava acertar as contas com gigolôs de terno branco, policiais corruptos e branquelas de boca de sino ao som de Isaac Hayes e Curtis Mayfield. Suburbia remete a isso. É anos 70, blaxploitation e funky. É os bailes Chic Show dos anos 80, Furacão 2000,é o movimento Miami Bass (que deu origem a batida do funk carioca dos anos 90 pra cá) até a raiz do cabeló sarará.
No final dos anos 70 o funky negro virou DISCO com a ajuda gloriosa dos gays, e a coisa saiu do gueto. Rebolar na pista ao som de Chic combinou total com uma das épocas mais hedonistas e brilhantes do mundo. E hoje em dia a DISCO está bem viva. Renominada de house-disco, nas festas mais chiques de New York, Europa e São Paulo é ela que está em voga.E quem ainda não viu o filme francês Intocavéis (que levou 1/3 de todos os franceses ao cinema para assistir a historia de amizade do paraplégico rico com o franco-africano que não dá moleza) verá o negão da vez, o já premiado pela atuação Omar Sy (na foto abaixo, em cena do filme),requebrando deliciosamente ao som de clássicos do Earth ,Wind and Fire.Vale ver o filme, o negão e a dança.
- Posted using BlogPress from my iPad
Nenhum comentário:
Postar um comentário