Com Mademoiselle Chambon, o diretor Stéphane Brizé faz um registro preciso da vida da província na França. Sim, é também, e principalmente, um filme de amor, mas que só ganha sentido ao ser desenvolvido no ambiente mais reservado do interior.
Um dos personagens, Jean (Vincent Lindon), é um pacato pedreiro. Casado, ele é bom pai (tem um filho), bom marido e ainda cuida do próprio pai, idoso. Ela é Véronique Chambon (Sandrine Kiberlain), mestra substituta, que passa um ano em uma cidade, depois arruma as malas e é despachada para qualquer outra região da França.
Jean é a estabilidade; Véronique, a itinerância, a mudança permanente de lugar. Ela tem uma janela com defeito em casa e chama Jean para fazer a reforma. Toca violino; Jean gosta da música. Ele é enraizado no interior; ela vem da região parisiense. Todo um jogo de oposições, bem francês no caso, aí se insinua, em particular na dialética Paris versus provence. Na França, o que é a "provence"? Simples: tudo o que não é Paris. Toda uma experiência social se lê nessa dicotomia.
Jogada assim, essa oposição poderia fazer de Mademoiselle Chambon um filme-clichê. Não é assim. E não o é pela sutileza com que Brizé aproxima esse par de contraditórios. Na França, não há grande distância social entre um bom pedreiro e um professor competente. A diferença entre os personagens talvez seja mais cultural. Mas, como se sabe, esta não é suficiente para anular uma atração mútua. O problema está em outra parte e diz respeito à estabilidade, ou, pelo contrário, à disposição em assumir riscos e jogar tudo para cima ao embarcar numa aventura.
Para interpretar esse impasse, Brizé conta com um par de ótimos atores. Em especial Lindon, que, com poucas palavras, mas um rosto expressivo, transmite ao espectador todo o seu dilema. Para o cinema-clichê, o homem apaixonado é sempre alguém exultante. Em Chambon vemos esse homem angustiado, dividido entre impulsos que se anulam mutuamente. De um lado, a vida que construiu e com a qual se sente feliz, mas talvez não de maneira integral. De outro, a promessa de felicidade, mas que só se pode cumprir ao preço da infelicidade alheia.
O filme funciona assim, entre a culpa e o desejo. Pode até parecer fora de moda quando se acredita que todos as vontades podem ser satisfeitas sem demora ou entrave. Na verdade, não funciona assim e as pessoas continuam a ter de fazer negociações graves entre o desejo e suas consequências. Filme adulto, em suma. Delicado, ainda por cima.
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