segunda-feira, 6 de junho de 2011

Calligaris, Bin Laden e os homem-bombas!

Sempre houve conflitos entre culturas opostas, com vontade de se invadir mutuamente e de converter os outros ou, se eles não aceitarem, de exterminá-los. Mas, justamente, a simples oposição entre culturas leva às bombas - não aos homens-bomba. E é o homem-bomba que explica o terrorismo moderno.


O homem-bomba (diferente do kamikaze japonês em 1944) não é um subterfúgio estratégico (tipo: é só com um sacrifício humano que a gente conseguiria colocar o explosivo na hora e no lugar certos). Homem-bomba é quem PRECISA se explodir junto com seus inimigos. Mas por quê?

Pois é, o homem-bomba não é um fanático que tenta matar inimigos de uma "civilização" diferente. Ao contrário, o homem-bomba é filho da abertura moderna do mundo e das fronteiras, com seu corolário: a competição das culturas pelos corações e pelas mentes de todos e especialmente dos que viajam e migram.

Quem migra de uma cultura tradicional para a modernidade ocidental fica quase sempre dramaticamente dividido entre a sedução do Ocidente e a culpa de estar traindo sua cultura de origem.

Dois pilotos do 11 de Setembro, na noite do dia 10, despediram-se da vida bebendo e brincando num "night club"; aparentemente, eles imaginavam o paraíso dos mártires, com sei lá quantas virgens, nos moldes de um "night club" da Nova Inglaterra. Quase certamente, eles se odiavam e nos odiavam por isso.

Explodindo os inimigos, o homem-bomba tenta silenciar um mundo que o tenta e ao qual ele não sabe resistir. Explodindo-se, ele resolve o conflito do qual ele mais sofre: seu conflito interno.

Bin Laden não foi representante de nenhuma ideia ou cultura; foi apenas parasita de um conflito psíquico.


Enquanto terapeuta, tenho por ele um desprezo particular. Afinal, bem ou mal, eu passo meu dia tentando ajudar as pessoas a negociar e tolerar seus conflitos internos. Bin Laden dedicou sua vida à tarefa de tornar intolerável o conflito interno de migrantes e viajantes, para convencê-los a vestir um cinto de explosivos.

Um comentário:

J. disse...

sou apaixonada pela psicologia, cê sabe? Faço Direito, mas tenho uma essa paixão, que nutro aos poucos.

Leio muito mais sobre Jung que sobre as outras vertentes, mas interesso-me em entender tudo.
Por isso adoro quando vc dedica posts a explicar a realidade das coisas pelo olhar da psicologia. Me estimula!
Sacia um pouquinho minha sede de entender o Homem.

beijos
jana.