quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Cora Ronai: porque Bethania é o melhor antídoto contra a campanha eleitoral.


Para que uma campanha política consiga motivar os eleitores, ela precisa, em primeiro lugar, ser... política! Mas não há nada de político, no antigo e nobre sentido da palavra, no que nos vem sendo apresentado. O mundo em que os candidatos vivem não guarda nenhuma relação com a realidade que pretendem administrar. Aliás, salvo a Marina, os próprios candidatos deixaram de passar qualquer impressão de autenticidade. São fantoches de si mesmo, criaturas de propaganda que apresentam não o que são, mas o que gostariam de ser. Ou nem isso; apenas o que seus marqueteiros acham que vende melhor.
Assim, de pessoa notoriamente tida por prepotente e atrabiliária (mas diplomaticamente apresentada como "difícil"), Dilma tenta passar por senhora educada, por mãe ocasionalmente severa, mas sempre gentil e compreensiva; de oposicionista de poucos amigos, Serra pretende ser acessível, religioso, popular. Não é, não são. Isso para não falar em todo o cardume menor, salpicado de criminosos e de figuras ridículas.


Não me reconheço no que vai pela televisão. Meu país é melhor e mais rico, mais diversificado, criativo e inteligente. E, apesar de saber que eles não vieram para cá em espaçonaves, nem surgiram por geração espontânea, continuo achando que o Brasil não merece os políticos que tem.

E mais uma vez, quando o coração anda pesado com o que acontece à nossa volta, Maria Bethânia surge no horizonte, esplendorosa, e põe os pingos nos ii, mostrando que, apesar de tudo, o Brasil tem muito bem onde se segurar. Dessa vez, na última quinta-feira, ela contou com o auxílio de uma platéia formada por alunos da rede pública de ensino, que foram ouvi-la em “Bethânia e as palavras -- leituras”, espetáculo de pouco mais de uma hora de poesia.

É provável que os meninos e meninas que estavam lá nunca tenham ouvido poesia falada, mas todos entraram perfeitamente no clima do recital. Ficaram atentos e encantados, responderam com longos aplausos quando seus professores foram mencionados e, sobretudo, quando Bethânia, homenageando um antigo mestre, lembrou que ali estava uma ex-aluna do recôncavo baiano – prova de que é possível “uma boa, devida e plena educação nas escolas públicas”.
“Bethânia e as palavras” não é só um comovente (e imperdível) recital de poesia; é também um manifesto pela educação, em que são recorrentes as imagens dos cadernos, dos lápis, da leitura, do encanto pelas palavras e pelos poemas. Um manifesto, enfim, pela sensibilidade e pela delicadeza.
De tudo o que eu tenho visto e lido, é, disparado, o melhor antídoto contra a campanha eleitoral.

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