'Filhos de João' remonta o velho mundo baiano
Quarenta anos depois da edição do primeiro álbum dos Novos Baianos, É Ferro na Boneca! (RGE, 1970), o grupo tem sua história recontada em Filhos de João - O Admirável Mundo Novo Baiano, filme de Henrique Dantas que esteve em exibição no Festival do Rio. A estrutura convencional do documentário contrasta com a inovação musical e comportamental promovida pelo grupo em sua década de existência (1969 - 1979). Mesmo sem ousar na estética ou na linguagem, Dantas cumpre com eficiência o papel de documentar a passagem libertária do grupo pela música brasileira dos anos 70. E cabe ao baiano Tom Zé - o responsável por apresentar Galvão (seu conterrâneo na cidade de Irará) a Moraes Moreira - abrir o filme para dar sua visão dessa "pequena manifestação do absurdo". Mas logo entram em cena os personagens principais da história para expor as memórias de um mundo cheio de lendas - com exceção de Baby do Brasil (outrora Baby Consuelo), que chegou a dar entrevista para o filme, só que depois vetou a veiculação em Filhos de João do depoimento que gravou. João - vale informar - é João Gilberto, pai espiritual dos Novos Baianos e responsável pela forte carga de brasilidade que moldou o som pop do grupo no segundo e melhor álbum da turma, Acabou Chorare (Som Livre, 1972), obra-prima gestada no auge da vida em comunidade regida pelas leis de paz e amor do movimento hippie. Com direito a doses fartas de maconha. "A gente só se desentendia por causa de futebol", revela Pepeu, em alusão às peladas cotidianas jogadas no momento áureo da banda.
'Astronauta Libertado' perfila bem o erê Tom Zé
Produção espanhola finalizada em 2009, Tom Zé - Astronauta Libertado põe foco na música e na ideologia do artista a partir de uma oficina de Experimentação Musical ministrada por Zé em Astúrias, na Espanha, em 2007. Dirigido e roteirizado por Igor Iglesias González, o documentário espanhol perfila bem o artista brasileiro através de entrevistas com Tom Zé, de depoimentos (como o de Rita Lee, companheira das primeiras viagens tropicalistas) e de imagens de arquivo (como trechos das entrevistas concedidas por Zé em 1972 e 1978 aos programas MPB Especial e Música e Músicos, da TV Cultura). A rigor, Astronauta Libertado fabrica na tela a imagem que já se tem do artista que pisou no palco pela primeira vez em 1960 para defender - em programa da TV baiana intitulado Escada para o Sucesso - uma música abusadamente batizada Rampa para o Fracasso. Contudo, dá algumas pistas valiosas sobre o caráter do artista. "A única coisa pela qual ele se interessa no mundo é música e trabalho", ressalta Neusa Teixeira, mulher, empresária e cúmplice das brincadeiras dessa eterna criança que completa 74 anos amanhã, 11 de outubro de 2010, e que ainda se assusta sempre que começa a (re)ler Dom Quixote de la Mancha, o clássico livro de Miguel de Cervantes (1547 - 1616). "Ele é um erê", caracteriza a fiel Neusa Teixeira, em alusão aos espíritos infantis e brincalhões que baixam nos terreiros do Candomblé. "Tom Zé é uma criança", corrobora Rita Lee, parceira do Quixote tropicalista na moda de viola 2001, de cuja letra foi extraído o (feliz) título Astronauta Libertado. "Ele anda na beira do abismo e ainda faz piruetas, mas não cai porque ele de outro planeta...", metaforiza Rita.

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