Não é incrível que se tenha gasto a montanha de dinheiro, papel e tinta numa reforma para unificar o idioma escrito e, mesmo assim, ainda seja possível definir uma palavra como “escrita em português de Portugal pós-acordo ortográfico”?
O fato (que em Portugal continua o facto) é que a pretensa unificação da ortografia acabou por criar uma série de novas – e divertidas! – diferenças entre o português tuga e o português brazuca.
Os hotéis portugueses deixaram de ter recepção e passaram a atender os hóspedes recém-chegados na receção. (E ali você continua a fazer o seu registo, sem “r”, exatamente como já acontecia antes do acordo.)
Evitar filhos em Portugal ficou mais barato: os casais agora economizam um “p” ao comprar seus anticoncecionais. Em compensação o país se tornou um pouco mais inseguro: os detetores portugueses não detetam mais a letra “c”. Torço, entretanto, para que não haja mudança no sabor dos pasteizinhos de Belém, que agora são confecionados com um “c” a menos.
A reforma ortográfica poderia ter acabado com a corrupção em Portugal – mas não: a corrupção por lá continua igualzinha à do Brasil. Não virou “corrução” não.
Se isso deixa você decepcionado, conforme-se: se você fosse português, estaria no máximo dececionado. Se bem que não seria uma decepção temporária; seria uma deceção perentória.
Na verdade eu fico contente com essa avacalhação oficial. Entendo que essas novas diferenças abrem um precedente importante. Se os portugueses podem criar novas grafias para escrever do jeito que falam, por que você e eu precisamos nos ater a formas que não são fiéis à nossa pronúncia?
Brasileiros! Se os portugueses ganharam o direito de escrever “excecional”, por que nós não podemos escrever “muinto”? Por que não temos ao menos a opção de escrever “opição?” E “desconequitado”? E “acadjimia”? E o que não entendo até hoje: porque escrevemos “também”, se na vida real pronunciamos “tambêm”?
Pela legalização do verbo “vim”!
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