segunda-feira, 9 de julho de 2012

É sempre um deleite!!!

Por Bernardo D.I.




Woody Allen saúda Roma.
Para Roma, Com Amor (To Rome With Love, 2012) é o mesmo Woody Allen de sempre, para o bem e para o mal. Após o grande sucesso de Meia Noite em Paris (Midnight In Paris, 2011) – que inclusive rendeu uma premiação do Oscar de Melhor Roteiro Original – o incansável judeu baixinho do Bronx lança mais um filme europeu, agora tendo a fascinante cidade de Roma como cenário, e voltando para a frente das câmeras pela primeira vez desde Scoop – O Grande Furo (Scoop, 2006).


Se antes a personalidade de cada cidade gerava uma história que lhe era característica, a multifacetada Roma gera quatro histórias paralelas que jamais se encontram. Duas das histórias apostam no gênero da comédia romântica, que exploram a velha temática de Woody sobre o homem da cidade grande perdido no conflito entre desejo e culpa: em uma delas, Woody volta à estratégia de Sonhos de um Sedutor (Play it Again, Sam, 1972), onde recebia conselhos amorosos de Humphrey Bogart – desta vez, Jesse Eisenberg interpreta um arquiteto apaixonado pela amiga de sua mulher e recebendo conselhos de um famoso arquiteto que por acaso encontra na rua. A outra, com a participação de Penelope Cruz, explora igualmente o tema de adultério, onde um casal de italianos vindo do interior tem que experimentar toda a energia pulsante de Roma para poder então abandonar a culpa e experimentar o prazer.


Esses dois momentos mais elaborados, que combinam com o universo semelhante de Meia-Noite em Paris ou Vicky Cristina Barcelona (idem, 2008), compartilham espaço com duas histórias que apostam no campo do humor absurdo: uma delas, com Roberto Benigni interpretando um homem comum que é promovido a celebridade repentinamente, sem razão específica, fazendo uma observação irônica sobre o mundo das celebridades e a perseguição midiática (tema que ele já havia explorado de forma mais ampla em Celebridades [Celebrity, 1998]). A outra envolve o próprio Woody interpretando um diretor vanguardista (e fracassado) de ópera que descobre que o sogro da sua filha é um grande cantor de ópera... que só consegue cantar quando está tomando banho e que lotará teatros onde o público verá o sogro cantar enquanto toma uma ducha.



Esses quatro pequenos esquetes que compõem o filme acabam criando um painel cheio de altos e baixos – o texto de Woody, ainda que sempre natural, fluido e hilário, acaba esbarrando na própria falta de unidade, com as narrativas se intercalando de forma esquemática, com uma ordem rapidamente percebida pelo espectador. Apesar de algumas piadas realmente inspiradas, acaba prevalecendo uma sensação de esquematismo, de feijão com arroz. É um clichê de Woody Allen muito pouco empolgante.


Outro problema é a celebração forçada da cidade: há de se observar que, enquanto Match Point (idem, 2005) usava das características inglesas para compor um sólido drama sobre crime e culpa, Vicky Cristina Barcelona (idem, 2008) se utilizava das cores fortes e personagens característicos para falar sobre sexo e libertação e Meia-Noite em Paris mergulhava no absurdo para discutir a passagem do tempo e a nostalgia, Para Roma Com Amor esbarra no fator turístico que prevalece em grande parte das cenas que envolvem a interação de americanos com italianos ou com a própria cidade em si: panorâmicas, enquadramentos e diálogos fazem questão de lembrar, a todo momento, de como Roma é fantástica - muitas vezes parando por aí.



Mas Para Roma, com Amor, em todo seu feijão com arroz, faz o dever de casa. É sempre um prazer ver veteranos como Judy Davis, Alec Baldwin, Roberto Benigni e o próprio Woody desfiando os diálogos de ritmo rápido e entrecortado e testemunhar jovens atores se firmando, como Jesse Eisenberg e Ellen Page, que realmente compreenderam o espírito do típico casal alleniano e entregam um desempenho funcional onde podemos ver a tal da química influenciada claramente pelo duo Allen e Keaton dos anos setenta.


O filme novo de Woody pode não ser dos seus melhores, mas ainda celebra, afinal, o prazer dos pequenos momentos e das pequenas epifanias. Como é um costume que já virou tradição, o resultado nem sempre pode ser inspirado – mas nem por isso há motivo para ser completamente severo. Se não manteve a constância, pelo menos ainda rende algumas risadas. Coisa que Woody faz desde os 15 anos de idade e que hoje, aos 76, continua tão lúcido quanto anto antes. Só o fato de poder ver esse incansável operário do humor se jogar de cabeça mais uma vez em outra obra já compensa a ida ao cinema. E no fator homenagem... bem, eu sei, você sabe, e o próprio Woody Allen sabe que sempre competirá em padrão altíssimo consigo mesmo por certa vez ter realizado Manhattan (Idem, 1979).



O nome de um filme do Woody Allen é muito importante. Eu não sabia que o primeiro nome dado para esta obra foi Bop Decameron. Fui ver. Isso explica muita coisa, pelo menos pra mim. O Decameron de Giovanni Boccaccio,é um texto alegórico medieval do século XIV (tá na Wikipedia, gente) que reúne 100 contos de 10 pessoas jovens. Elas falam de amor, do erótico ao trágico, com humor, brincadeiras e lições de vida. Essas histórias são contradas pela técnica de "frame story", uma história dentro da história. Pronto, aqui eu já comecei a achar que eu estava entendendo. Ah! Itália, Decameron, histórias de pessoas jovens, tudo a ver com a ideia do filme. O filme é uma história, que conta a história de alguns jovens. E mais: o Decameron tem uma coisa de numerologia e princípios, como as Quatro Virtudes. São quatro casais, não? Bom, aí pode ser só viagem de roteirista, vou parar aqui pra não voar. E tem a parte do Bop, que nos faz pensar em todo o clima sexy e moderno. Bop Decameron seria uma atualização revisitada do Decameron original. Bom, Allen sempre faz isso com livros em filmes, não? Por que não agora? Ele poderia ter escolhido algumas histórias entre as cem e adaptado para o século XXI as coisas eternas do ser humano (Roma, cidade eterna...) como paixão, insegurança, traição, ventura, desventura. Afinal o ser humano não mudou tanto, como a Roma que o personagem de Alec Badwin conheceu quando jovem.
Só que Allen abandonou a ideia do Bop Decameron e mudou para Nero Fiddles. Oi? Ah, tá. Nero tocando violino enquanto Roma está em chamas. Nome ruim, não colaria. Nero seria quem, Woody Allen? Bom, ele não toca violino, mas clarineta. E muito bem, aliás. E ai ficou To Rome With Love. A parte boa da tradução é ficou PERFEITA. Para ROMA com AMOR sendo que ROMA-AMOR, bom você já notou.



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3 comentários:

J. disse...

eu viiiii, maravilhoso
maravilhoso
maravilhoso !!!

Chiz disse...

O título em português bem poderia ser o famoso palíndromo "Amor a Roma", e seria facilmente lido de qualquer latitude...

Luciane disse...

Tens razão, Chiz, ficaria muito mais bonito, romântico e inteligente!!!