sexta-feira, 7 de setembro de 2012

O grande bazar de imagens! Texto de Cora Ronai.




A rede social da hora é o Instagram. Depois de um começo de vida algo rarefeito, em que servia apenas a felizes proprietários de iPhones, o simpático aplicativo de fotos chegou também ao Android – e, logo, ultrapassou os 50 milhões de usuários. Adquirido pelo Facebook, virou uma espécie de terra de ninguém, uma rede dentro da rede, em que, à típica exceção de nus e cenas chocantes em geral, vale tudo, num curioso desvio de rota para uma comunidade cujo objetivo primordial era uma inocente troca de figurinhas. Vale até não postar foto nenhuma, fenômeno cada vez mais comum, que dá às pessoas que gostam de olhar fotos mas não sabem ou não querem produzi-las o direito de participar da comunidade.

Nos Estados Unidos, o Instagram está sendo usado como extensão da campanha política e espaço para lobbies variados, do porte de armas à campanha contra o câncer de mama. No Brasil, é vitrine de lojinhas domésticas de capas de celular, roupas, acessórios, cookies e cupcakes. Usuários de Draw Something encontraram nele o display ideal para os seus desenhos. Celebridades do mundo inteiro postam fotos do seu dia-a-dia, para felicidade dos fãs. Grandes empresas, como Nike, Burberry e Tiffany, sobem fotos regularmente para suas contas, e têm milhares de seguidores. Mas como o IG (como é popularmente conhecido) tem a vantagem de permitir ambientes estanques, cada um vive no mundinho visual que lhe agrada. Só isso explica que, em meio a esse Grande Bazar de Imagens, ainda haja quem defenda o uso exclusivo de iPhones, as fotos sem filtro e outros purismos que, cá entre nós, só fazem tirar a graça da brincadeira: afinal, estamos lá para nos divertirmos, e não para nos trancarmos em dogmas!

Digo isso, mas também tenho uma implicância. Não gosto de galerias em que a maioria das fotos são retangulares. Ao contrário do que seus autores imaginam, elas em geral exibem menos boas imagens do que uma grande falta de imaginação. Salvo a rara exceção que confirma a regra, não há situação em que não se consiga um bom 6 x 6, como provaram, durante décadas, as Rolleis e as Hasselblads. Mas isso, claro, é só detalhe.

Nos últimos tempos, desde que a página popular perdeu a sua atração inicial, que era revelar bons fotógrafos para os seus colegas, os usuários da comunidade têm encontrado meios alternativos para descobrir novos talentos. Já existem até aplicativos que funcionam como galerias de arte, com curadores que escolhem conjuntos de obra, mas, a meu ver, as melhores ferramentas para descobrir boas figurinhas no Planeta Instagram encontram-se lá mesmo. Uma é a aba que permite ao usuário ver do que as pessoas que segue gostaram; outra é estudar quem segue ou é seguido por quem. Faz sentido. Quem curte fotos de carros, por exemplo, vai seguir e ser seguido por outros apreciadores de automóveis. Com um pouco de garimpo, membros de todas as tribos acabam se encontrando uns aos outros. Para isso também é útil ler os comentários e buscar os autores mais engajados. Ou, ainda, fazer buscas por temas.

Numa dessas, aliás, é que descobri a grande surpresa que tive recentemente: há, no Instagram, uma conta que se diz oficial do governo da Coréia do Norte. Ela é alimentada por um funcionário da embaixada do país na Alemanha, e mostra as típicas imagens de propaganda dos regimes totalitários. Há incontáveis fotos do Querido e Respeitado Camarada Kim Jong Un, há fotos de manifestações populares, de monumentos e de paradas militares, tudo ao melhor estilo soviético dos anos 60. É muito esquisito saber que essas fotos foram feitas agora. Até ontem, a conta NorthKorea_DPRK tinha 131 fotos e 414 seguidores, e seguia 490 usuários.

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