Uma bola gira no espaço
Quem não estava no Maracanã no dia 16 de julho de 1950 estava, provavelmente, ouvindo rádio. Mas esqueçam a imagem clássica do torcedor de ouvido colado ao radinho de pilha: o transistor ainda não havia entrado em cena, e os rádios eram, em sua maioria, objetos de mesa bastante volumosos. As válvulas impediam a miniaturização, fazendo com que mesmo os raros portáteis fossem pesados e desajeitados. Além disso, nenhum deles saia falando assim que era ligado. Válvulas eram seres delicados, que precisavam de um calorzinho confortável para trabalhar.
A triste notícia da derrota da seleção brasileira para o Uruguai chegou ao povo entre chiados e ruídos. Mas este som quase inaudível estava por um fio – e por algumas baterias, e alguns componentes que fizeram grande diferença.
Quando o Brasil ganhou sua primeira Copa, em 1958, o rádio de bolso já existia há um ano. Era um lançamento da empresa que viria a se chamar Sony (adotando o nome do aparelhinho) e, embora a concorrência observasse, com desdém, que os seus vendedores usavam camisas com bolsos estranhamente grandes, o modelo pegou, e popularizou-se em dois tempos.
Ele é, por sinal, o aparelho de comunicação mais bem sucedido de todos os tempos: supõe-se que existam no mundo cerca de sete bilhões de unidades. Não sei quem faz essas contas nem como elas chegam à internet, mas lá está, e é espantoso...
Com a proximidade da Copa de 2010, já estão chegando à redação dúzias de releases sobre os parceiros tecnológicos do evento, e das extraordinárias redes e instalações que vem sendo preparadas. Coisa nunca vista, garantem todos, e certamente é verdade, porque quatro anos no mundo da tecnologia equivalem ao desenvolvimento de algumas décadas no mundo low-tech, se não a alguns séculos. Sou testemunha de que, em 2006, ainda havia muito a fazer. Fui à Copa da Alemanha, e sofri junto com os colegas que usavam as salas de imprensa para transmitir textos e fotos.
Mas o mais interessante é que, nesta Copa de 2010, torcedores do mundo inteiro estarão com aparelhos tão pequenos quanto os velhos radinhos em mãos – só que eles serão celulares poderosos, com boa capacidade de conexão e habilidade para desempenhar uma infinidade de funções, entre elas receber, ao vivo, as imagens perfeitas da TV digital.
Isso, claro, se tudo funcionar direitinho – ressalva fundamental quando se fala em qualquer espécie de tecnologia.
De qualquer forma, poucas coisas resumem tão bem o vertiginoso salto dado pela humanidade ao longo do último meio século quanto a comparação entre os gadgets dos torcedores das Copas da Suécia e da África do Sul. Tão próximos no tempo que, em muitos casos, são a mesma pessoa -- apenas 50 anos mais velha -- eles estão a tal distância tecnológica uns dos outros que, a rigor, poderiam viver em planetas diferentes.
E, considerando o quanto a Terra mudou, vivem mesmo.
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