sexta-feira, 12 de março de 2010

Ótimo texto de Cora Ronái sobre tecnologia!

Uma bola gira no espaço

Quem não estava no Maracanã no dia 16 de julho de 1950 estava, provavelmente, ouvindo rádio. Mas esqueçam a imagem clássica do torcedor de ouvido colado ao radinho de pilha: o transistor ainda não havia entrado em cena, e os rádios eram, em sua maioria, objetos de mesa bastante volumosos. As válvulas impediam a miniaturização, fazendo com que mesmo os raros portáteis fossem pesados e desajeitados. Além disso, nenhum deles saia falando assim que era ligado. Válvulas eram seres delicados, que precisavam de um calorzinho confortável para trabalhar.
A triste notícia da derrota da seleção brasileira para o Uruguai chegou ao povo entre chiados e ruídos. Mas este som quase inaudível estava por um fio – e por algumas baterias, e alguns componentes que fizeram grande diferença.
Quando o Brasil ganhou sua primeira Copa, em 1958, o rádio de bolso já existia há um ano. Era um lançamento da empresa que viria a se chamar Sony (adotando o nome do aparelhinho) e, embora a concorrência observasse, com desdém, que os seus vendedores usavam camisas com bolsos estranhamente grandes, o modelo pegou, e popularizou-se em dois tempos.
Ele é, por sinal, o aparelho de comunicação mais bem sucedido de todos os tempos: supõe-se que existam no mundo cerca de sete bilhões de unidades. Não sei quem faz essas contas nem como elas chegam à internet, mas lá está, e é espantoso...
Com a proximidade da Copa de 2010, já estão chegando à redação dúzias de releases sobre os parceiros tecnológicos do evento, e das extraordinárias redes e instalações que vem sendo preparadas. Coisa nunca vista, garantem todos, e certamente é verdade, porque quatro anos no mundo da tecnologia equivalem ao desenvolvimento de algumas décadas no mundo low-tech, se não a alguns séculos. Sou testemunha de que, em 2006, ainda havia muito a fazer. Fui à Copa da Alemanha, e sofri junto com os colegas que usavam as salas de imprensa para transmitir textos e fotos.
Mas o mais interessante é que, nesta Copa de 2010, torcedores do mundo inteiro estarão com aparelhos tão pequenos quanto os velhos radinhos em mãos – só que eles serão celulares poderosos, com boa capacidade de conexão e habilidade para desempenhar uma infinidade de funções, entre elas receber, ao vivo, as imagens perfeitas da TV digital.
Isso, claro, se tudo funcionar direitinho – ressalva fundamental quando se fala em qualquer espécie de tecnologia.
De qualquer forma, poucas coisas resumem tão bem o vertiginoso salto dado pela humanidade ao longo do último meio século quanto a comparação entre os gadgets dos torcedores das Copas da Suécia e da África do Sul. Tão próximos no tempo que, em muitos casos, são a mesma pessoa -- apenas 50 anos mais velha -- eles estão a tal distância tecnológica uns dos outros que, a rigor, poderiam viver em planetas diferentes.
E, considerando o quanto a Terra mudou, vivem mesmo.

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