Começou. Um programa de TV, mostrando a adesão do torcedor à Copa, exibiu um cachorro -um pobre poodle branco- vestido, calçado, tingido e paramentado de verde-amarelo do rabo às orelhas. Devidamente humilhado, e tendo de fazer jus à sua condição de "melhor amigo", o poodle não protestou. Mas não parecia levar fé nesta seleção, que é muito mais de Dunga que dos torcedores e cachorros brasileiros.
Basta sair às ruas para ver como o Brasil gosta mais de Copa do Mundo do que de futebol. A desconfiança no rendimento da seleção não impede que prédios e ruas estejam cobertos pelas cores nacionais, com as bandeiras, fitas e bandeirolas dando às metrópoles um quê de arraial junino. E o pior é que, se o Brasil for despachado mais cedo, várias ruas continuarão com o asfalto colorido por anos, como uma memória do vexame.
A overdose de verde-amarelo que nos espera nas próximas semanas será amplificada por elas se rem também as cores da anfitriã, África do Sul. E, por mais que a Fifa tente reprimir, não poderá impedir que o comércio e a propaganda deitem e rolem com o chamado "marketing de emboscada", usando símbolos que lembram a África -um elefante ou uma zebra verde-amarela, por exemplo- para caronear os patrocinadores oficiais e associar seus produtos à Copa.
Mas, por mais massacrante que seja a onipresença das cores, talvez possamos abstrair e fazer de conta que elas não estão em toda parte. Já da poluição sonora provocada pelas vuvuzelas não será possível fugir. Tive essa certeza outro dia, em Recife, onde estava a trabalho: um único marmanjo armado com uma vuvuzela se fez ouvir por 12 horas seguidas e em bairros diferentes. Sei disso porque espiava pela janela do táxi, da van ou do hotel, e era sempre o mesmo pentelho.
O Brasil inteiro soprando aquilo será um pesadelo cacofônico.
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