quinta-feira, 3 de junho de 2010
O novo filme do Polanski é um filmaço!!! Super recomendo.
Por Bruno Cava – "O ultimo longa de Roman Polanski, que ganhou o Urso de Prata (melhor direção) no Festival de Berlim de 2010, estreia hoje no Brasil. Não, não é mais um da febre espírita. O título refere-se ao ghostwriter: aquele que, apesar de escrever o texto, não o assina e fica oculto. Atribui-se a autoria a outra pessoa, geralmente uma celebridade. No longa, o escritor interpretado por Ewan McGregor é o “fantasma” do primeiro-ministro britânico Adam Lang (Pierce Brosnan), que deseja produzir uma autobiografia de sua carreira política. O roteiro baseia-se num romance de mistério de Robert Harris, que co-escreveu com Polanski o roteiro. Sem ser nomeado na história, o Fantasma/McGregor é convocado de última hora para substituir o ghostwriter anterior, morto em circunstâncias suspeitas quando terminava a “autobiografia” de Lang. Obviamente as coisas vão se complicar para o novo redator. Desse argumento simples, parte um thriller preciso e maduro, que multiplica os sentidos de interpretação.
Como comentário político, O Escritor Fantasma expõe ligações mais ou menos ocultas por trás do discurso da guerra ao terror. Denuncia o enlace de bastidores entre os governos, órgãos de inteligência e institutos de pesquisa e ativismo (“think tanks“), que cimentaram a aliança unha-e-carne entre a política externa dos EUA/Bush e do Reino Unido/Blair. Lang/Brosnan representa o ex-premiê Tony Blair, mas no filme também aparecem “disfarçados” outros políticos ingleses, Condeleeza Rice, a CIA, o Instituto Claremont e até a Haliburton — megaempreiteira ligada ao vice de Bush, Dick Cheney, empresa responsável principal pela reconstrução do Iraque pós-guerra. Se Tarantino reescreveu a Segunda Guerra em Bastardos Inglórios (2009), Polanski faz o mesmo agora, já que, na sua ficção, o premiê britânico é intimado pelo Tribunal Penal Internacional a responder pelos crimes de guerra cometidos — entrega de prisioneiros para interrogatórios com tortura pela CIA. Nesse sentido, O Escritor Fantasma trava um diálogo com o filme vencedor do Oscar passado, Guerra ao Terror (Kathryn Bigelow, 2009), que contorna qualquer comentário sobre as dinâmicas políticas da guerra, em favor da exposição acrítica do aqui-e-agora dos soldados no fronte."
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