quarta-feira, 21 de abril de 2010

Poderoso Chefão do Soul

Recém-lançado no Brasil pela editora Zahar, o livro O Dia em que James Brown Salvou a Pátria não é biografia de James Brown (1933 - 2006), mas traça perfil do artista com ênfase na politização do canto do pioneiro do funk. Escrita pelo jornalista James Sullivan, a narrativa está centrada no histórico show feito por Brown em 5 de abril de 1968 no Boston Garden, situado em Boston (Massachusetts, EUA) - um dia após o assassinato de Martin Luther King (1929 - 1968), ativista e líder dos negros na defesa da igualdade racial. Naquela ocasião, Brown já era - ele próprio - um líder no campo musical. Três anos antes, em 1965, sua histórica gravação de Papa's Got a Brand New Bag começou a remodelar a música negra norte-americana, em especial o soul, desaguando no som que seria rotulado de funk nos anos 70. Pois foi com a autoridade de sua música engajada e explosiva que o pai do funk acalmou os ânimos da população e impediu que a revolta com o assassinato de King incendiasse - literalmente - a cidade de Boston. Centrado nessa apresentação ainda emblemática, o livro ressalta o envolvimento de Brown com as causas políticas. Eis um parágrafo do excelente prefácio assinado por Chuck D, do grupo Public Enemy:


"Lembro do impacto inicial que o Poderoso Chefão do Soul teve sobre mim. Ainda consigo me ver, com meus colegas do ensino médio, escorregando e patinando nos trechos congelados da rua no inverno do Queens, em Nova York. O que nos dava equilíbrio era o ritmo de James Brown, a dança que Mister JB dizia ter criado para finalizar sua apresentação de There Was a Time. A energia da música de Mister JB correspondia ao vigor compacto de crianças da escola primária que correm livremente. Basta enfileirá-las no corredor do pátio e abrir a porta. Elas não têm a menor ideia de aonde vão - simplesmente correm. Para mim, isso descreve a força de James Brown. É, James Brown era um homem adulto, mas possuía a centelha ilimitada de uma criança."

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